Plaza de Mayo


A Plaza de Mayo é o principal cenário dos protestos políticos na Argentina, desde há muito tempo. Por ficar bem na frente da sede do governo, numa cidade que tem uma região metropolitana de mais de 12 milhões de habitantes, basta a notícia de alguma medida impopular que centenas (às vezes milhares) de pessoas marcham para lá para exigir seus direitos.

Talvez a única coisa que você veja a respeito disso, se ficar poucos dias na cidade, sejam as barreiras de metal que impedem a aproximação da Casa Rosada (às vezes elas ficam abertas, mas sempre ali pertinho, caso precisem ser usadas pela polícia para proteger o governo). Entretanto, se ficar um pouquinho mais de tempo, será bem possível ver alguma manifestação programada ou não acontecendo.

Numa das vezes em que estive lá, pude testemunhar a marcha silenciosa das Madres de la Plaza de Mayo, o movimento de mães que tiveram filhos sequestrados ou mortos durante a ditadura militar argentina, no final dos anos 1970 e início dos 1980.

Na época, em 2003, disseram-me que todas as tardes de quinta-feira elas estavam ali, sempre fazendo um movimento circular no centro da praça, usando o seu símbolo: uma fralda de bebê de algodão branco atada como lenço na cabeça. No chão, pode-se ver algumas pinturas retratando esse símbolo.
Como acontece com muitos movimentos sociais mundo afora, hoje as Madres de la Plaza de Mayo não são mais apenas um grupo: há facções que se contrapõem acerca da origem e dos rumos do movimento e que se entitulam as reais representantes da classe. Da mesma forma, elas acabam abrançando outros pleitos, como por exemplo a não privatização da estatal argentina do petróleo, como era o caso da vez em que as vi.

Em 2010, pude vê-las fazendo uma espécie de abaixo-assinado e vendendo camisetas e souvenirs do movimento em banquinhas improvisadas no meio da praça. Muitas já são as irmãs dos desaparecidos, porque as mães de verdade já morreram.
Outra vez, em 2008, estávamos ali perto da praça quando começamos a ver um movimento atípico de viaturas da polícia, com proteções de metal nos parabrisas, sirenes ligadas e um alvoroço que indicava algo grave. Algumas ruas foram fechadas e, dobrando uma esquina, pudemos ver um prédio pegando fogo e alguns enfrentamentos.

Horas mais tarde, já no hotel, soubemos pela TV que se tratava de uma ação do grupo "Quebracho", um autoentitulado movimento revolucionário de esquerda argentino que geralmente aparece envolvido em quebra-quebras, e que em suma prega a substituição de toda a classe politica argentina e o fim da propriedade privada.

Já as comemorações de futebol e o ponto alto do "cacerolazo" de 2001 têm como cenário o Obelisco, algumas quadras dali.

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