Ouarzazate e a volta
Depois de Aït Benhaddou, andamos pouco mais de 40km até
entrarmos na área urbana de Ouarzazate, nosso destino final daquele dia de
passeio.
Ouarzazate é uma cidade de porte médio para padrões marroquinos,
com cerca de 60 mil habitantes, várias instalações militares, um aeroporto e
uma “pujante” indústria cinematográfica. Os filmes que são gravados na região geralmente
exigem a contratação de estúdios cinematográficos nacionais, situados
justamente nesta cidade.
Ao contrário do que se vê em Marrakech, a cidade tem amplas
avenidas quase vazias, muito limpas, e quase só se veem carros e caminhonetes
de padrão mais alto circulando.
No seu centro antigo, ainda existe uma kasbah tradicional,
como naquelas cidadezinhas que passamos pelo caminho até ali. Ali, descemos da
caminhonete para dar uma caminhada pelas ruas apertadas, passando por algumas
poucas lojinhas e um monte de moradores locais com caras de meio desconfiados –
quase todos eles de etnia berbere, segundo o Abdelhouahed.
Pelo sentimento de estarmos num lugar tão remoto, o mais
longínquo da viagem, até mandamos cartões postais para Santa Maria. Era dia 5
ou 6 de abril, e foi chegar aqui em casa lá por 6 de maio, um mês depois.
Depois de circular um pouco pela cidade a pé e de conhecer
os estúdios de cinema, paramos ainda numa loja de especiarias e chás para
comprar os últimos presentinhos de viagem que faltavam e para levar alguma
coisa que representasse a cidade.
Por volta das 4h30, começamos nossa viagem de volta, dessa
vez sem paradas previstas no caminho. Só paramos um pouco num posto de gasolina
a uns 100km de Ouarzazate, para tomar um café e usar o banheiro, antes de
seguir viagem.
Se na ida o Harold e o Achilles acharam que eu seria o único
a passar mal naquela viagem, na volta o que vimos foram os três querendo se
alternar no banco da frente, para se sentir um pouco melhor com a brisa gelada
no rosto. O motorista tocou o pé no acelerador e aquelas curvas pareciam ainda
mais intermináveis do que na vinda, pela manhã.
O Abdel até confessou que, numa vez em que levou três brasileiras
nesse mesmo passeio, as meninas chegaram a Ouarzazate e se recusaram a voltar
pela estrada, preferindo pagar do próprio bolso uma passagem aérea de volta a
Marrakech para não ter que passar por aquilo de novo.
De fato, se a pessoa comeu alguma coisa que não lhe desceu
bem (tomar suco de laranja no café da manhã, por exemplo, teria sido o meu
erro, segundo o guia), a viagem pode se tornar uma tortura. Curiosamente, tal
como eu já tinha aprendido na viagem ao Atacama, o motorista é o que menos
sente, por isso se estiver de carro alugado por lá, o mais sensível à altitude
e a enjoos deve ser quem conduz. Se está passando mal, o lugar do carona é a
melhor pedida. Sob hipótese alguma quem acha que pode enjoar pode sentar no
meio do banco de trás.
Já havia anoitecido quando chegamos de volta à medina de
Marrakech. O Abdelhouahed, um pouco assustado com as nossas de quem estava
quase passando mal em boa parte da volta, sabiamente nem nos pediu para deixar
recados no seu livro de visitas, temendo uma propaganda negativa para o seu negócio.
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