Semana Santa em Sevilla
As procissões de Páscoa de Sevilla são as mais tradicionais
do mundo e, exatamente por isso, atraem centenas de milhares de turistas todos
os anos. A cidade fica no seu grau máximo de ocupação, sendo a Semana Santa
considerada o pico da alta temporada por lá. O evento só rivaliza com a Feria
de Abril, que ocorre alguns dias depois, e ainda é coroado pela abertura da
temporada de touradas.
As procissões começam no Domingo de Ramos, 7 dias antes da
Páscoa, um dia em que a cidade ainda não tem tantos turistas, mas no qual
parece que todo mundo sai de casa com a melhor roupa de domingo para curtir, em
família, o início das comemorações. Sentimo-nos até meio deslocados por ver
tanta gente de terno azul marinho e gravata na rua, principalmente os jovens.
Quem olha acha que estavam daquele jeito só para ir à missa, mas na verdade a
maior parte do tempo é passada em pé, nas ruas e nas praças, bebendo cerveja
com os amigos, os pais, os demais familiares.
Já uns três ou quatro dias antes, as ruas por onde as
procissões passam começam a ser cercadas e cadeiras para a plateia começam a
ser instaladas. Os apartamentos com sacadas para essas ruas recebem visitas de
representantes das confrarias que fazem as procissões e recebem adornos para
pendurar nas sacadas e nas janelas.
O auge da celebração é a madrugada entre a quinta-feira
santa e a sexta-feira santa, quando passam as procissões mais antigas e tradicionais.
No domingo de Páscoa, as celebrações são encerradas.
As tais cofradías são as protagonistas das procissões.
Embora tenham origem religiosa e estejam vinculadas às diferentes igrejas
existentes na região central de Sevilla, na prática, funcionam quase como um
clube ou bloco de carnaval no Brasil: seus membros pagam anuidades para se
manterem sócios e só quem estiver em dia com os pagamentos tem direito de sair
na procissão. Há uma liga municipal que
define quem e quando vai passar por que ruas, e em que ordem.
Os trajes variam nos adornos e nas cores, mas são todos do
mesmo estilo “nazareno”. Quem olha pela primeira vez até se assusta, porque são
exatamente como aqueles que a Ku Klux Klan usava no sul dos Estados Unidos: um
manto que cobre todo o corpo e um capuz em formato de cone, com apenas alguns
buraquinhos para os olhos, nariz e boca.
As cofradías têm, da mesma forma, uma espécie de segmentação
social: as mais tradicionais e mais caras são compostas por gente das classes
mais altas e usam roupas com menos adereços; as mais novas são compostas por
trabalhadores mais simples e geralmente são mais alegres nos adereços.
As procissões consistem, basicamente, em processos de
penitencia, nos quais se levam altares com as imagens das padroeiras de cada igreja,
à qual a irmandade está vinculada, até a sede da catedral de Sevilla, para
fazer parte da comemoração de Páscoa. A marcha é acompanhada por uma banda
tocando, com tubas, cornetas e tambores, músicas bem melancólicas típicas de
Páscoa (embora às vezes se façam gracinhas, como tocar um “Ai se eu te pego” em
ritmo de Páscoa).
Na prática, consegue-se ver muito pouco de cada procissão,
porque as ruas ficam praticamente intransitáveis de tanta gente. Com os cortes
que se faz na circulação de pessoas a cada vez que um grupo está passando pelo
trajeto oficial, é fácil se perder dos demais integrantes do grupo e ficar uns
10 minutos preso em algum lado.
O clima de festa que o centro histórico todo assume, com
pessoas de todas as idades se divertindo nos bares e restaurantes, porém, é o
que faz tudo valer muito a pena.
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