De volta à Espanha
Embora a Espanha tenha sido o primeiro país que conheci na
Europa, ainda em setembro de 2006, e um dos que, sem dúvida alguma, mais
gostei, de todos pelos quais passei, ainda não tinha merecido uma nova visita
minha até o mês de março de 2012. Nesse período todo, já tinha estado mais de
uma vez em Portugal, na Alemanha, em Paris, em Amsterdam e na Itália, por
exemplo, mas nunca voltado a solo espanhol.
No final daquele mês, aproveitei a oportunidade de ter um
amigo bastante próximo, o Harold (que inclusive participou do mochilão pelos
Bálcãs), morando lá para fazer um mestrado numa faculdade local, e voltar a
visitar o país. Fui sem grandes objetivos turísticos, mais pela visita ao amigo
do que para qualquer outra coisa, mas sabia que o simples fato de estar numa
região como a Andaluzia já me traria boas experiências.
Como a Semana Santa, na Espanha, é um feriadão de ponta a
ponta, ele teria vários dias para fazermos juntos alguns passeios por lugares
mais distantes. As aulas terminariam na sexta, antes do domingo de Ramos, e só
voltariam na segunda, depois da Páscoa, totalizando 8 dias de folga. Decidimos,
depois de analisar vários possíveis roteiros, que iríamos para o Marrocos
passar 5 dias a partir da segunda-feira da Semana Santa, aproveitando um voo
recém inaugurado da RyanAir ligando Sevilha e Marrakesh sem escalas, com apenas
1h10 de duração. Com esses 5 dias fora, eu ainda teria três dias úteis na
semana anterior para conhecer a
Andaluzia sozinho, enquanto ele assistia às aulas, mais o sábado e o domingo
para curtir Sevilha com ele e com mais um terceiro amigo, o Achilles, que
chegaria naquele mesmo final de semana para ir ao Marrocos conosco.
Eu cheguei a Sevilha na quarta-feira da semana antes da
Semana Santa, num voo vindo de Lisboa, com a TAP. Tinha feito a imigração, sem
problema algum, em Portugal, e embarquei pontualmente no minúsculo avião de 26
passageiros que liga a capital portuguesa à capital andaluz umas duas vezes por
dia.
O Harold foi me esperar no aeroporto e, depois de um trajeto
de cerca de meia hora de ônibus urbano, já estávamos no centro de Sevilha, onde
ele tinha um apartamento alugado para seu período de 6 meses no país. Embora
não estivesse dentro do “casco” histórico, o lugar era muito bem localizado
logisticamente: está a meio caminho entre duas estações de da única linha de
metrô da cidade (a estação San Bernardo, que também é estação de trem regional
e Altavia, e a estação Prado de San Sebastian); a poucos passos de uma parada
do bonde elétrico novinho folha que leva para dentro do centro histórico da
cidade, com terminal no Archivo de Índias, em frente à Catedral de Sevilha; a
uma quadra do terminal de ônibus do Prado de San Sebastian e a apenas 15
minutos de caminhada das principais atrações turísticas da cidade.
Depois de abrir a mochila e tomar um banho, para tirar a
nhaca da viagem, saímos para almoçar ali por perto, num horário que para os
espanhóis ainda é muito cedo: cerca de 13h30. O normal, por lá, é almoçar às
15h. A janta é degustada por volta das 22h30 e, no dia seguinte o café da manhã
(quando existe) sai lá pelas 11h. Praticamente conseguíamos manter o fuso
horário brasileiro para efeitos de refeições, mesmo estando num fuso de 4 horas
a mais que no Brasil.
Já nesse primeiro dia, ele foi me passando suas impressões
da cidade e da região, que seriam confirmadas nos dias seguintes: um lugar
relativamente pequeno (Sevilha tem apenas 700 mil habitantes), com muito senso
de comunidade e de poucos imigrantes, ainda desconhecido da maioria dos
brasileiros (que ficam apenas em Barcelona, Madrid e Ibiza), mas que guarda o
melhor de quase todos os estereótipos espanhóis: as melhores tapas, as melhores
touradas, o melhor flamenco, os legados muçulmanos e ciganos na Espanha, as
maiores procissões religiosas e uma vontade impressionante de curtir a vida na
rua, tomando chopp a qualquer hora do dia, em pé, nas centenas de barzinhos
espalhadas pelo centro histórico. De quebra, a cidade está a uma ou duas horas
de trem de praias que ficam lotadas de turistas europeus em busca de sol
(praias ao redor de Málaga, Cádiz, Alicante, etc.) e a duas horas da estação de
esqui mais meridional da Europa, na Sierra Nevada, ao lado de Granada.
Arquitetura árabe nos palácios
Uma banda chegando na frente da Arena de Touros
Uma dançarina de flamenco durante apresentação
Um nazareno vestido para procissão na Semana Santa
Assim como a Baviera representa a Alemanha em todos os seus
traços mais típicos (turisticamente falando) e a Sicília representa a Itália, a
Andaluzia (e Sevilha, especificamente) representa a Espanha, embora isso valha
tanto para o bem como para o mal. Ela tem o melhor do que o país tem a oferecer
a turistas, mas também tem taxas de desemprego que são das mais altas do país,
uma pobreza econômica que só não é pior que a da região da Estremadura e um
calor que, no verão, torna insuportável a vida de alguém que pretenda ficar
batendo perna para aproveitar ao máximo as atrações turísticas, pois
frequentemente chega aos 45ºC, principalmente quando sopra uma onda de calor
dos desertos africanos.
Por isso tudo, o lugar é melhor visitado em estações
intermediárias, entre os meses de março e maio, e de setembro a novembro, e com
um ritmo que permita viver as experiências que a cidade oferece. Exatamente por
essa razão, uma viagem completa pela Andaluzia exige um planejamento que
coloque a Semana Santa, ou a Feria de Abril, ou a temporada de touradas no
roteiro (ou uma temporada de praia). O lugar não é mais bonito ou mais
fotogênico que muitos outros que existem na Europa, mas é um lugar para se
viver essas experiências tipicamente espanholas como nenhum outro.
Se não for para lá com essa mentalidade, de viver as
experiências, é possível que o visitante volte dizendo apenas que é um lugar
muito seco, sem grande atrativos naturais, com palácios que depois de um tempo
parecem todos muito iguais (a arquitetura mudéjar e muçulmana se revela nos
detalhes), com serviços meio ineficientes. Se a pessoa não gosta de flamenco ou
tem ojeriza a touradas, então, voltará indignada, porque isso está
profundamente arraigado na cultura local.
Já antecipo, porém, que para o meu gosto, Sevilha é um dos
melhores lugares para se passar alguns meses na Europa que eu já conheci.
Comentários
Gostei muito!
Tenho uns amigos com quem viajei a Paris há dois anos e pretendemos continuar a conhecer a Europa aos poucos, mesmo porque a grana e o trabalho não permitem que seja de uma vez só.
Capturei a imagem do palácio em Sevilha, mas não há outras referências sobre o que se trata, mas pode deixar que darei o crédito do fotógrafo.
Abraço,
Gostei muito!
Tenho uns amigos com quem viajei a Paris há dois anos e pretendemos continuar a conhecer a Europa aos poucos, mesmo porque a grana e o trabalho não permitem que seja de uma vez só.
Capturei a imagem do palácio em Sevilha, mas não há outras referências sobre o que se trata, mas pode deixar que darei o crédito do fotógrafo.
Abraço!