De Chicago a Tóquio

Após almoçar no Giordano's mais próximo da Magnificent Mile, enxerguei pela janela um outlet de uma loja de departamentos que já conhecia de outras viagens aos EUA e decidi que, diante da chuva que estava cada vez mais forte, meus passeios por Chicago estavam encerrados. 

Passei na dita loja (uma "Nordstrom Rack") e fiz umas comprinhas para usar na própria viagem ao Japão - principalmente meias, cuecas e uma calça jeans. Como minha bagagem já estava despachada para o destino final, não podia levar coisas tão volumosas que não coubessem na bagagem de mão no avião. 

Por volta das 15h, percebi que estava mais do que na hora de voltar para o aeroporto de O'Hare, por isso peguei um metrô na estação Chicago e fiz de volta todo o caminho percorrido mais cedo naquela manhã.



Chegando no aeroporto, fui direto para o embarque, pois já estava com os cartões desde o check in em Porto Alegre, passei pela sempre demorada segurança americana e em seguida me vi caminhando por corredores e mais corredores até chegar ao terminal de onde sairia meu voo da ANA - All Nippon Airways.



Assim que cheguei no meu portão de embarque, percebi que algo não estava certo. Muita gente pedindo informação não podia ser bom sinal. Os placares eletrônicos já informavam um atraso de 45 minutos na partida, mas não conseguia entender o motivo. Depois soube que uma aeronave da AA tinha chegado atrasada e estava bem mais tempo do que devia no finger que seria usado pelo meu voo. 

Aquele atraso inicial de 45 minutos logo virou 1 hora e meia, depois 2 horas, e chegou por fim a estressantes 3 horas de atraso. Foi o meu maior "perrengue" nessa curta viagem, na qual tudo mais deu certo. Minha irresignação com esse atraso era que, quanto mais tarde eu chegasse em Tóquio, maior o risco de ter que pegar um táxi ou algum meio de transporte mais caro até meu hotel em Shinjuku, porque os trens e metrôs da capital japonesa param de circular logo depois da meia-noite, na maioria das linhas. Além disso, o local onde eu retiraria meu pocket wi-fi tinha um aviso expresso dizendo que encerravam o expediente às 22h, o que significaria chegar na cidade sem essa ferramenta. 

Em relação a esse ponto específico, tentei fazer o que era possível àquela altura. Entrei em contato com o SAC da empresa de aluguel e avisei que chegaria depois de fecharem o expediente. Pedi que deixassem em outro lugar para eu retirar, ou que me mandassem direto para o hotel no dia seguinte.

Quando finalmente embarquei no 777 da ANA, toda aquela demora no aeroporto se converteu em curiosidade pelo que estava por vir. Escolhi uma poltrona na janela, mas numa parte do avião em que havia apenas uma poltrona ao lado da minha. Aliás, esse voo tinha uma configuração muito estranha: era 2-4-3; bem assimétrico. Ao meu lado sentou-se um japonês que nitidamente não falava outra língua que não a dele.

O serviço de bordo começou e logo já pude perceber a diferença no atendimento. Era minha primeira vez voando com uma tripulação japonesa, e o gestual e a educação deles ao servir é marcante. A refeição foi anunciada por meio de cardápios distribuídos logo que sentamos, e não demorou mais do que meia hora de voo para servirem uns biscoitinhos salgados crocantes de algas com umas sementes, como entrada.

A janta desse voo foi das melhores refeições que já fiz num voo em classe econômica na minha vida. Tudo tradicional japonês, com direito a chá verde, hashi para comer e aqueles guardanapos úmidos que sempre são dados nos restaurantes daquele país. Confesso que não sei o nome das coisas que comi, e que nem tirei fotos, mas fiquei saciado e surpreso com a qualidade e o gosto de tudo que experimentei.

Após a refeição, comecei a olhar filmes asiáticos. Assisti a uma comédia japonesa inspirada num mangá, com atores de verdade, e a um filme sobre a crise da Coreia do Sul em 1998. 

De tanto em tanto, tentava dar uma espiada pela janela para ver o que estava passando lá embaixo. O voo saía de Chicago em direção ao Japão, passando pelo Canadá, pelo Alaska e pelas ilhas Aleutas, mas tudo que consegui ver de dia eram lagos e mais lagos em meio a estepes desertas, enquanto ainda havia céu aberto (depois nublou tudo). 

Consegui dormir umas 3 horas, no máximo, num voo com duração de mais de 11 horas. Quando faltava cerca de uma hora para pousar, já depois da segunda refeição que foi servida (por sinal, bem decepcionante, perto da primeira), consegui ver o avião se aproximando da costa japonesa. Pelo que olhei no mapa, depois de chegar ao país, devo ter sobrevoado uma área um pouco ao sul da região de Fukushima para entrar na ilha de Honshu, descendo, então, até a região de Tóquio. Quando estava se aproximando da cidade, o avião fez uma grande volta ao leste da cidade, avançando sobre a região de Chiba, para finalmente começar a descer para a pista de Haneda.

O piloto tirou pelo menos uma das três horas de atraso no voo, que foi mais curto do que o anunciado.

Ao desembarcar pelo finger, tive uma sensação bem parecida com a de estar chegando ao aeroporto de Dubai, onde estive em 2017, embora com menos ostentação. Tudo muito clean e surpreendentemente vazio.

Na imigração, nada me foi perguntado. Apenas cumprimentei o agente, entreguei o passaporte com a página do visto aberta e ele me devolveu com um adesivo indicando a data de entrada e meu limite de permanência.

Na retirada de bagagens levou uns 15 minutos até a primeira mala aparecer na esteira. Enquanto isso, consegui conectar um wi-fi gratuito e, para minha felicidade, recebi uma mensagem de que o pocket wi-fi que eu reservei estaria me esperando em outra loja aberta 24 horas, com instruções para chegar até lá.

Já eram umas 23h00 do domingo, dia 16, quando peguei minha bagagem e fui procurar esse local para retirar o equipamento alugado. Chegando lá, a moça só me entregou um envelopão fechado com o meu nome, e pude seguir direto para a estação de trens de onde partiria para a região da cidade em que me hospedaria.

Quando encontrei o local, comprei um PASMO Card numa máquina de autoatendimento, carreguei-o com 10.000 ienes e desci as escadas rolantes. Lá dei de cara com as primeira placas informativas de trens que vi na viagem, o que me deu aquele friozinho na barriga - elas mostram tudo só em japonês por vários segundos, e só depois vão mostrando em inglês a mesma informação, mas num tempo menor. Como os nomes das estações são compridos e ainda não faziam muito sentido para mim, levei um pouco de tempo para entender qual trem deveria pegar. Ainda estava sem internet, só com as informações que baixei quando estava no setor de retirada de bagagens, mas decidi confiar no meu taco e pegar um trem que me levasse até uma das estações da Yamanote Line - a linha circular que define o que está no centro e o que está no subúrbio em Tóquio, ao longo da qual estão as estações mais importantes da cidade, inclusive as de Shibuya e Shinjuku, que eram as minhas referências. 



Entrando no trem, alívio. Estava finalmente no Japão e tudo tinha dado certo. Assim como eu, vários ocidentais estavam tentando entender se estavam no lugar certo, mas o clima geral era de tranquilidade e silêncio.



Explicando o que foi que fiz, em termos objetivos: tomei a Keikyu Line na estação do Terminal Internacional de Haneda em direção a Tóquio, e desci no terminal, em Shinagawa. Lá tomei outro trem da Yamanote Line, em direção a Shibuya e Shinjuku, e desci em Shinjuku.

Amanhã conto como foi minha chegada no hotel!

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