Início do segundo dia


A noite acabou passando ligeiro. Eu consegui dormir bem, mas o Rafael disse que passou muito calor no início, quando estava com muita roupa, e muito frio depois, quando tirou algumas cobertas. Eu só me acordei para ir ao banheiro no meio da madrugada – efeito do vinho – e pelas 5 da manhã, quando o Diego, com o celular ainda no fuso horário brasileiro, nos acordou já pronto para sair achando que estava na hora certa. Foi só convencê-lo de que ainda tínhamos algum tempo a mais para dormir que voltamos ao sono.

Como me preparei bem – e isso é importante nessa viagem – não passei desconforto. Dormi com aquela malha de underwear polar por baixo de tudo, com calça e um casaco, além da coberta do alojamento. Deixei as pilhas da máquina fotográfica junto ao travesseiro, para que não estivessem “paradas” no início da manhã. Ao acordar, só troquei a parte de cima da roupa, colocando o casacão, o cachecol e as luvas, e reacomodei as baterias na câmera. A mochila já estava quase pronta para voltar à caminhonete.

Do lado de fora, quando saímos para o café da manhã, o ambiente era inóspito. Não tínhamos visto nada do lugar na noite anterior, pois quando chegamos já estava escuro. Mas vimos que não perdemos nada. O que existis ali era apenas casas com aparência de quase abandonadas, bem afastadas umas das outras, com muros bem baixinhos marcando a divisa dos terrenos e um aspecto de deserto ou de Velho Oeste, como queiram. Para que os telhados não sejam arrancados com a força do vento é comum encher de pedras a parte de cima das casas, outra característica típica da região andina inteira.

No café da manhã, comemos pães, biscoitos, tomamos chá e café. Não tivemos do que reclamar, dentro do que se propunha o alojamento.

Por volta das 8h, já estávamos com a caminhonete carregada novamente e pudemos recomeçar a viagem. Eu, que estava na parte bem de trás do veículo, senti bastante a estrada com muitas pedras que pegamos no primeiro trecho da viagem, que não tem nenhuma atração turística em especial.
Por cerca de uma hora e meia, só o que fizemos foi andar em direção à fronteira com o Chile, na cidadezinha de Avaroa, onde termina uma linha férrea que vem de Uyuni, e onde só chega um trem por semana. Passamos por um posto de controle militar e começamos a enxergar, ao longe, o vulcão Ollague. Naquele vialrejo, a melhor descrição possível seria o cenário do filme Mad Max.
Andamos mais um tanto e chegamos no que é tido como o melhor mirante do topo do vulcão Ollague, que tem neves eternas no cume, mas que parece meio acinzentado para quem olha. O lugar é muito seco e inóspito, mas bonito. Começam a aparecer formações rochosas que nos acompanhariam ao longo de todo aquele segundo dia de tour.
Ficamos uma meia hora por ali, subindo e descendo de pedras tirando fotos aqui e ali e seguimos viagem, agora para um dos lugares mais bonitos que já vi na vida.

Troquei de lugar com o pessoal, porque realmente senti muita dor nas costas no primeiro trecho do dia. Estava bem na frente da caminhonete quando começamos a nos aproximar da primeira das lagunas altiplânicas pelas quais passaríamos.

Laguna Cañapa era o nome dela. Linda. Azul, com bordas brancas de gelo e de bórax, salpicada pelo vento. Os pontinhos cor-de-rosa que se viam de longe eram os famosos flamingos do altiplano. As montanhas quase sem vegetação ao redor serviam de moldura para aquele oásis gelado no meio do deserto. Foi uma das imagens mais impactantes que já tive na vida, repito.

Estacionamos num cantinho da lagoa e quando descemos logo pudemos ver a força e o frio do vento que soprava ali. Fomos caminhando pelas margens até o ponto onde se concentravam os flamingos, muitos deles imóveis, paradinhos com uma perna só na água rasa da lagoa.
A várzea da lagoa guardava algumas surpresas. Às vezes, o que parecia um lugar bom para se pisar na verdade era gelo fino com barro embaixo. Ficamos rindo da cara dos que conseguiram se sujar (e quase congelar) quebrando essa capinha de gelo com o pé.

Creio que tenhamos ficado quase uma hora ali ao redor da lagoa, só admirando a paisagem, tirando fotos e tentando chegar perto dos flamingos, que às vezes saiam voando em debandada. Muito bonito mesmo; só não dá vontade de ficar mais por causa do frio, senão o bom seria caminhar ao redor de toda ela – coisa que deve tomar umas duas horas.

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