Primeira noite no tour

A saída da ilha do Pescado se faz em direção à margem sudeste do salar de Uyuni, que fica relativamente mais próxima da ilha do que a margem nordeste, por onde havíamos entrado pela manhã, no início do tour.
Assim que saímos do salar, começamos a andar por estradas de chão que, embora pareçam mais trilhas de aventureiros no meio do deserto, são as únicas estradas que existem na região quase totalmente desabitada. Aqui, a paisagem é árida e poeirenta, ao contrário do salar, que tinha pouco pó no ar e até evocava algo de praia.
No caminho, lembro de termos passado por dois sustos. O primeiro foi que uma mulher boliviana, vestida a caráter, apareceu do nada do meio da estrada fazendo sinal para que o motorista parasse, toda esbaforida. Eles trocaram algo num espanhol bem rudimentar, incompreensível para nós, que depois foi explicado como sendo um pedido para que conseguíssemos ajuda para outro veículo que tinha quebrado numa estrada paralela. Não entendemos muito bem se o motorista repassou a responsabilidade à outra caminhonete que vinha logo atrás ou o quê, mas sei que não perdemos muito tempo ali e nem vimos o que tinha de fato acontecido com o outro carro.

Os estragos na estrada se deviam, em boa parte, aos temporais que tinham acontecido alguns dias antes do nosso passeio. Alojamentos haviam sido destelhados, nuvens de areia e poeira tinham tirado toda a visibilidade e passeios tiveram que ser cancelados pouco antes de chegarmos a Uyuni.
O dia foi escurecendo e já eram mais de 19h30 quando chegamos ao alojamento em um lugarejo identificado com San Juan. Embora fosse um povoado com gente morando – não mais do que umas centenas – esse foi o lugar mais, qual seria a palavra, remoto em que eu já passei a noite. A impressão era de algo totalmente no meio do nada, longe de tudo e de todos – ainda mais do que no alojamento da noite seguinte, nas margens da laguna Colorada.
O alojamento era um prediozinho comprido, de um andar térreo só, com uns 10 ou 12 quartos com tamanho suficiente para duas camas (embora alguns tivessem três), um ao lado do outro, com um corredor na frente e uma única portinha para o pátio de entrada. No final do corredor, havia um banheiro, unissex, com dois vasos sanitários e um chuveiro, além de duas pias.




A preocupação do guia com a hospedagem acabou não fazendo sentido algum naquela noite. Fomos o primeiro grupo a chegar no alojamento e, até umas 23hs, o único. Pudemos escolher os quartos e tomar banho com tranqüilidade, antes da janta. Até emprestamos papel higiênico e mais algumas coisas aos holandeses, que estavam totalmente despreparados para passar a noite num lugar sem aquecimento que chegava a temperaturas de -10°C no meio da madrugada.
A janta foi servida depois de um chá com bolinhos de entrada. Havia milho cozido e uma galinhada. Por fora da janta incluída no passeio, ainda pedimos umas garrafas de vinho, surpreendentemente uns Concha y Toro muito bons em garrafas de litro, maiores do que as usuais de 750ml. O preço, como tudo na Bolívia, era uma barbada.


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