"Bienvenido a la Argentina"

Já imaginou ir até um caixa automático de um banco conhecido, colocar seu cartão, fazer um saque e sair dali sem preocupação nenhuma, para algumas horas depois descobrir que parte do dinheiro que você sacou era falsa?

Pois é... foi exatamente isso que me aconteceu nesse último final de semana, quando fui a Buenos Aires para comemorar o Dia dos Namorados longe dos nossos restaurantes lotados de 12 de junho (na Argentina esse dia se comemora em fevereiro, no Dia de São Valentim).

Não sei exatamente em qual das vezes isso ocorreu, porque só descobri depois. Fato é que fiz um saque de 700 pesos (cerca de 330 reais) num caixa automático do HSBC do porto da Buquebus (recebi 7 notas de 100 pesos) e, no dia seguinte, outro saque de 500 pesos, quando recebi outras 5 notas de 100 pesos, dessa vez num banco da Calle Reconquista, a meia quadra da Casa Rosada, que é o principal centro financeiro da Argentina (só lembro que o caixa era da rede Banelco).

No terceiro dia na cidade, quando fui pagar uns presentes numa daquelas lojas da Havanna, a moça do caixa só pegou uma das notas de 100 e já viu que era falsa. Arregalei bem os olhos e ainda soltei a frase: "mas não pode ser, eu saquei num caixa automático..." Aí ela me devolveu e me mostrou como era falsa.

De fato, passei um ou dois dias com aquela nota na carteira sem perceber nada. Eu, que colecionava moedas e cédulas quando era criança, que a vida inteira gostei de conhecer papel moeda de outros países, pela primeira vez fui vítima de um golpe do qual já tinha ouvido falar muito.

Meses atrás, na revista Viagem e Turismo, já se alertava que os caixas automáticos do aeroporto de Ezeiza, inclusive do Banco de la Nación (o Banco do Brasil dos argentinos) estavam dispensando notas de 100 falsas. Um dia antes de me descobrir vítima do golpe, um taxista me comentou a mesma coisa, enquanto olhava para a nota com que eu lhe pagava, para ver se não era falsa.

As pessoas que me viram naquela situação ainda comentaram que eu devia reclamar e que se tivesse guardado o recibo do saque (o que eu não tinha), teria de fazer alguma coisa.

Realmente, não havia como fazer nada. Eu estaria viajando dali a alguns minutos e de nada adiantaria registrar uma ocorrência, sendo que não tinha prova de nada.

O triste é que não há como se prevenir de um golpe desses. Ninguém escolhe as notas num caixa automático e muito menos pode devolver se suspeitar que são falsas. Um bancário pode muito bem colocar dinheiro falso no meio de cédulas verdadeiras, que é o que parece estar acontecendo com frequência em Buenos Aires. A única forma de evitar isso é não sacando dinheiro (?!). Só que, para evitar isso, fica-se exposto a um risco ainda maior: as casas de câmbio, que adoram empurrar falsificações e cédulas esfarrapadas que depois não se consegue passar adiante.

O prejuízo econômico foi relativamente pequeno: 100 pesos valiam, no dia, apenas 46 reais. Mas a imagem da situação atual do país, para mim, ficou um pouco mais prejudicada. Enquanto eu me lamuriava por não ter como evitar o dito golpe, a caixa da loja só me disse o seguinte, com ar de deboche: "ah, bienvenido a la Argentina!"

Comentários

Marina Delphino disse…
André,

estive em Buenos Aires no final do ano (2010 para 2011) e passei por um problema como esse também, mas a única possibilidade foi quando troquei o dinheiro no guichê do banco LA NACION no aeroporto internacional EZEIZA.
Descobri a nota falsa quando fui pagar uma conta no café Richmond.
Tem que prestar bem atenção e se possível guardar os comprovantes.

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