Fátima

Depois de uma viagem bastante tranquila nos trechos entre Sintra e Óbidos, Óbidos-Alcobaça e Alcobaça-Nazaré, passei um sufoco bastante grande no último pedaço de estrada que me separava do hotel onde passaríamos a noite. O trânsito ao redor da cidade de Leiria estava infernal, talvez porque fosse horário de saída do trabalho, mas certamente a situação ficou pior em razão de inúmeras obras e desvios no anel rodoviário que liga as autoestradas que eu precisava pegar.

Chegamos em Fátima já tarde, por volta das 21hs, com tudo escuro. Tive dificuldades em encontrar o hotel que havia reservado pelo Booking, o Santa Maria, em boa parte por causa de vias de mão única que não apareciam no meu GPS e por outras tantas obras - estas dentro da cidade - que impediam o livre acesso a algumas ruas e avenidas. 

Quando finalmente encontramos o lugar e fizemos o check in, tivemos a grata surpresa de ver que a escolha tinha sido ideal. O hotel era novinho (o site é http://www.hotelstmaria.com/) e o custo benefício era excelente. Pagamos cerca de 70 euros a diária por um quarto espaçoso, com café incluído, um restaurante muito bom para se jantar, estacionamento gratuito e tudo de muito bom gosto. Acho que foi o maior banheiro em que já estive num hotel europeu. A janta, ali embaixo mesmo, também foi ótima, tanto que repetimos no dia seguinte. O plano de usar a cidade como base para explorar a região tinha se mostrado uma boa, porque dificilmente encontraríamos algum lugar parecido nas cidades menores ao redor, onde ficam os mosteiros e castelos que queríamos conhecer. 


O motivo para Fátima, uma cidade de apenas 11 mil habitantes, ter hotéis tão bons é óbvio: a cidade é um dos mais importantes centros de peregrinação cristã do mundo, por ter sido exatamente ali, em 1917, que ocorreram as aparições de Nossa Sra. de Fátima aos três pastorezinhos portugueses, dos quais a única sobrevivente de longa data foi a Irmã Lúcia, hoje também já morta. 

Milhares e milhares de pessoas fazem passeios de bate e volta de Lisboa à cidade e outros tantos milhares ficam por ali alguns dias, especialmente perto do dia 13, que é quando ocorriam as aparições, iniciadas no mês de maio e repetidas por seis vezes até outubro. 

Aproveitamos o início da manhã e o final da tarde no dia seguinte para conhecer o Santuário de Fátima, que fica a menos de 200m do hotel em que nos hospedamos. Logo na entrada que usamos, vimos o pedaço do Muro de Berlim que foi trazido para lá, como um símbolo da queda do comunismo, que está relacionada com a atuação do Papa João Paulo II e com os segredos de Fátima. 


O santuário é muito grande, cheio de espaço abertos (aliás, com muito pouca sombra) e há sempre pessoas pagando promessas de joelhos ao longo de toda a sua extensão. É comum, ainda, que as pessoas levem velas no formato da parte do corpo em relação à qual pediram alguma graça, para queimar no santuário.

Falando em velas, há tantas delas que essa se tornou uma das principais preocupações da organização do lugar. Há avisos sobre como acender as velas, onde deixar e pedidos para que as pessoas compreendam que não há espaços para todos queimarem as suas até o final. As áreas onde elas ficam depositadas viraram grandes fornos, cujo calor atinge as filas ao seu redor.

A Capelinha da Aparição, onde ficava a árvore sobre a qual Nsa. Sra. aparecia para os "pastorinhos", hoje fica dentro de outra bem maior, mais ou menos no centro do santuário. No lugar de maior destaque, fica a Basílica, que é ladeada por colunas que lembram a praça de São Pedro. No extremo oposto, está a Capela da Santíssima Trindade, uma construção bem mais recente e de linhas modernas. Nos subterrâneos, há ainda outras várias capelas. O dia inteiro (inclusive à noite) há missas e grupos de orações em todos os lugares (os quartos da frente do nosso hotel, por isso, tinham vedação especial nos vidros, porque os cantos e se ouvem por toda a cidade).





Tudo ali é gratuito, mas existem lugares para fazer doações. Não lembro de ter visto nenhum bar ou café dentro do santuário e há vedações expressas para o comércio de itens religiosos, que são vendidos só em lojas do centro da cidade. Há placas pedindo silêncio e respeito por todos os cantos também. Não conheço Aparecida, mas acredito que seja um pouco parecido (embora tenha achado que não estava tão cheio de gente). Com certeza, mais tranquilo do que o Vaticano.

A região onde Fátima está situada é muito quente no verão e, mesmo no mês de outubro, em que estávamos, sentia-se muito o sol forte na cabeça - por isso a dica mesmo é aproveitar o começo ou o final do dia para circular por ali. 


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