Sarajevo – Baščaršija

Baščaršija é o antigo bairro turco de Sarajevo. Pronuncia-se “bash-shar-shía” e era o centro da cidade durante o período em que a Bósnia fez parte do Império Otomano. Hoje, se você for olhar no mapa, ele ocupa um dos pontos mais ao norte da cidade (Sarajevo é uma cidade comprida, mas estreita, que fica quase toda ao longo do vale do rio Miljacka).

O lugar é cheio de mesquitas e de fontes de água em estilo oriental. Entretanto, não se parece muito com o que vimos na Turquia, porque, ao invés de mármore e de pedra, usa-se muita madeira e tijolos a vista na fachada dos prédios e na parte debaixo dos telhados. Pela cara das construções e pelos poucos tiros nas paredes, vê-se que muita coisa foi restaurada recentemente.

A rua principal, que é só para pedestres, chama-se Sarači, e na verdade é uma continuação da Ferhadija, a rua principal do bairro ao lado, onde fica o albergue. As atrações do bairro giram em torno de comida e de compras. Há cafés, joalherias, lojas de antiguidade, bazares, lancherias, lojas de artesãos e de souvenires uma ao lado da outra.

Como já era mais ou menos metade da tarde quando saímos do albergue para conhecer essa região, havia bastante movimento, mas com todo mundo andando num ritmo bem tranquilo, de quem passeia com a família num final de semana. Não há como dizer se há mais gente de fora ou gente da cidade mesmo, porque mesmo depois de 2 semanas na região eu não sei dizer quem tem cara de iugoslavo e quem não tem, mas a impressão (se eu tivesse que chutar) é de que a maioria das pessoas era de lá mesmo.

Uma cena frequente nas ruas de Sarajevo é a de um casal jovem de mãos dadas andando na rua, como namorados, em que o rapaz usa roupas bem ocidentais, na maioria das vezes uma bermuda e uma camiseta da Nike, Adidas ou alguma marca italiana, e a moça usa um vestido comprido muçulmano, com um lenço na cabeça. Ao contrário de países árabes, ali o islamismo não chega a impedir esse contato físico e demonstrações de carinho em público.

Há alguns pequenos museus no bairro, mas estavam todos fechados naquele domingo à tarde. Algumas mesquitas estavam abertas, mas a impressão que dá é a de que quem viu uma já viu todas. A maioria delas é bem pequena e não há nada de muito interessante do lado de dentro. Uma coisa que me chamou a atenção é que o relógio de uma torre de uma das mesquitas tinha os números em algarismos árabes, mostrando como era forte a presença do islamismo na cidade.
Ao lado do bairro turco, passa o rio Miljacka. Ali, a ponte mais antiga é justamente um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade, de que já falei em posts anteriores: a Ponte Latina.
Essa ponte é conhecida por um fato que todo mundo já deve ter ouvido falar quando estava estudando História no colégio ou para fazer o vestibular. Foi sobre ela, em 1914, que um nacionalista sérvio matou, com um tiro de revólver, o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, o Arquiduque Francisco Ferdinando. Esse fato levou a Áustria a declarar guerra contra a Sérvia. A Rússia, aliada, desta, declarou guerra à Áustria, e depois disso outras potências vieram ao apoio da Áustria, dando início à I Guerra Mundial.

Durante o período em que a Bósnia fez parte da Iugoslávia, mudou-se o nome da ponte para homenagear o terrorista (Gavrilo Princip) e havia marcas de metal no chão indicando o lugar exato em que o nobre austríaco foi morto. Hoje, porém, as marcas foram removidas (levadas para um museu ali perto) e a ponte recuperou seu nome original. Há apenas alguns totens explicativos sobre sua construção e sobre o fatídico assassinato.

O principal ponto de encontro do bairro de Baščaršija, no entanto, é a “Praça dos Pombos”, onde há uma grande fonte de água, uma importante parada de transporte público e, claro, muitos pombos. Ela fica mais ao norte, no início do pé de morro em que fica o bairro de Vratnik.
Foi nessa praça que comemos o prato típico mais famoso (e pedido pelos locais) da Bósnia e de todos os países da ex-Iugoslávia: o ćevapi bósnio. Esse lanche, que também é chamado de burek ou pelo diminutivo ćevapčići, é feito com um pão chato e arredondado, do tamanho de um prato, cebolas e dois ou mais tipos de carne e salsichas grelhadas. As carnes usadas geralmente são de carneiro e frango (o porco não é comido em lugares muçulmanos, mas onde há ortodoxos e católicos romanos, é utilizado), com bastante gordura.
Depois de jogar o nome na internet, para descobrir a grafia correta, acabei descobrindo pelo Wikipédia que o cevapi nada mais é do que a pronúncia local do “bom e velho” kebab, que existe em qualquer esquina da Europa, mas tem origem turca. Kebab, assim como ćevapi, na verdade é o nome da carne, mas acabou sendo utilizado para se referir ao lanche inteiro.

Se nós gostamos? Não... Pão meio duro, carne muito gorda, cebola muito forte. Foi só dessa vez e nunca mais.

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