O incidente no voo a Istambul

Depois de alguns chopps na Devassa da área de embarque internacional, embarcamos na hora marcada.

O avião, um A340, já estava bem cheio e estava com cara de que iria lotado. Assim que embarcamos, confesso que não tivemos uma impressão muito boa. Os bancos eram de uma cor azul piscina com cara de meio velhos. O som ambiente, umas musiquinhas orientais tocadas com harpa, fazia parecer que já estávamos em algum país árabe.
Logo que nos sentamos em nossas poltronas – felizmente eram dois assentos, um corredor e uma janela, sem ninguém no meio – ficamos só observando o movimento.

O que mais chamava a atenção era um grupo de africanos que ia e vinha pelos corredores, como que procurando pelo melhor lugar para sentar. No banco à nossa frente, que tinha uma porta de saída de emergência e que, por essa razão, permitia um espaço bem amplo para esticar as pernas, um desses africanos se sentou. Não demorou muito, um sujeito com aparência de ser árabe, com o cartão de embarque na mão, se apresentou como dono do assento e pediu ao passageiro sentado que deixasse o lugar. O africano argumentou (tudo em inglês) que alguém tinha pego o lugar dele e que era para o árabe procurar outro lugar. Chamaram o comissário de bordo e, já num tom bem exaltado, conseguiram demover o africano do lugar. Nesse meio tempo, porém, alguém levou o cartão de embarque para outro lugar e acabou perdendo, deixando o árabe indignado e reclamando que queria o cartão de volta porque precisava dele para comprovar a viagem ao patrão.

Enquanto tudo isso acontecia, outros africanos seguiam na sua busca por bons lugares no avião. No meio da madrugada, quando fui ao banheiro, encontrei um deles sentado na parte detrás do avião, naqueles assentos dobráveis usados pelas aeromoças, trancando com os pés a porta de um banheiro. Achei estranho, vi que o sujeito parecia meio bêbado e simplesmente procurei outro banheiro.

Quando saí do banheiro, vi que havia pelo menos uns 8 tripulantes do avião reunidos ao redor do sujeito que estava esticado com as pernas na porta do banheiro e vi que algo estava acontecendo. Voltei para meu lugar, dormi, e na manhã seguinte, quando voltei ao banheiro, encontrei o tal bêbado preso, algemado com as mãos para trás com lacres plásticos, numa cadeira de comissário, todo vomitado (o chão estava roxo de vinho ao seu redor), balbuciando palavras em algum idioma incompreensível, meio que chorando.

Conclusão: o bêbado se passou no vinho, começou a fazer baderna na parte detrás do avião e, àquela hora em que fui ao banheiro, a tripulação estava se reunindo para “efetuar a prisão” do sujeito, que ficou assim até o final da viagem. Essa eu nunca tinha visto!

Apesar do incidente, aparentemente a tripulação conseguiu manter a tranquilidade no voo. Quem estava sentado mais lá atrás deve ter sentido o mau cheiro, mas no mais a situação foi bem contornada.

De resto, o voo estava bem tranquilo. Não aproveitei muito o sistema de entretenimento, porque ou já tinha visto os filmes, ou não me interessei por nenhum outro. A comida estava muito boa – talvez a melhor janta e o melhor café da manhã que eu já comi num avião. Lasanha de berinjela, salada com iogurte, castanhas, pães bem fresquinhos, omelete e salada de frutas foram alguns dos itens do cardápio.

Do lado de fora, não dava para ver muita coisa. O voo passa boa parte do tempo sobre o oceano Atlântico, à noite, e boa parte do dia sobre o deserto do Saara. Embora seja algo diferente, o que se vê é apenas um reflexo tão forte do sol na areia que não há nem mesmo como distinguir a linha do horizonte. Só na parte final da viagem é que valeu a pena ficar na janelinha: vi o litoral da Tunísia, o sul da Itália (inclusive aquele estreito em que a “bota” da Itália quase toca na Sicília), a ilha de Corfu e o interior da Grécia (inclusive o Monte Olimpo).

O avião aterrissou em Istambul na hora marcada, depois de mais de 12 horas de viagem, com aplausos dos passageiros, como de costume em voos longos assim.

Comentários

Anônimo disse…
Olá André,
Infelizmente a tripulação passa por situações em que duvidamos ser verdade.... quanto ao voo do Brasil para Istambul, tenho a dizer que faço pelo menos de 1 a 2 vezes por ano , pois moro na Turquia e vou ao Brasil visitar a família. A alimentação é muito boa mesmo, diferente do que estamos acostumados no Brasil( bolacha com água). A aviação no Brasil acabou e agora nos resta viajar para fora, pois os preços das passagens e dos hotéis estão bem mais em conta... Um grande abraço e bons voos !!!!!!!!!!!
Michele Nóbrega

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