Berlin - Ostkreuz e o albergue

Foi muito engraçada a reação de espanto da gurizada quando descemos na estação de Ostkreuz, a mais próxima do albergue onde nos hospedaríamos.

O lugar parecia que não via uma reforma havia, pelo menos, uns 80 anos. O estilo da estação era bem daqueles do início do século passado, com banquinhos de madeira, a maior parte das passarelas todas descobertas, nada de tecnologia e bastante sujeira. Para completar, ao lado da estação destacava-se um reservatório d’água de metal gigante, todo escurecido pela ferrugem, que à primeira vista parecia mais uma guarita de observação de uma prisão. Inevitável não lembrar de um campo de concentração ou de filmes da 2ª Guerra...

Definitivamente, estávamos no que antes era Berlin Oriental – só que parecia que a unificação com o outro lado ainda não trouxe seus efeitos benéficos àquela parte da cidade. O fato de estar escurecendo só contribuiu para o clima sombrio do lugar.

Ostkreuz significa “Cruz do Leste”. Nessa estação, construída em forma de cruz, passam as duas linhas circulares de S-Bahn (em sentido horário e anti-horário) e mais uma importante linha no sentido leste-oeste, em ambas as direções. Era a estação mais movimentada de Berlin Oriental e sempre foi uma das mais importantes desde que criaram o sistema de transporte público na cidade, ainda antes do período das guerras e da divisão da cidade.

Depois de tentarmos nos localizar, ou seja, de achar qual a saída que dava para a rua que tínhamos que seguir, fomos saindo do prédio da estação e passamos por umas casas abandonadas, logo ao lado, bem como por uns carrinhos de cachorro-quente e refrigerantes. Mais alguns passos e tínhamos de passar por baixo de um viaduto, sob o qual havia uns três ou quatro punks (verdadeiros, não de boutique) com seus cachorrões ao redor.

Como vimos que o pessoal passava por ali sem ser incomodado, seguimos em frente, com uma sensação de estarmos num lugar mais ou menos igual a Christiania, o bairro hippie de Copenhague que conhecêramos naquele mesmo dia, só que mais cedo.

Passado o viaduto, demos de cara com uma ruazinha meio suja, cheia de lancherias de kebab, pizzas e barzinhos vagabundos. À medida que fomos caminhando, porém, as coisas melhoraram e, dali uns 50 metros, já parecia que estávamos num bairro universitário de qualquer cidade grande.

Friedrichshain, o bairro onde ficamos, era do lado oriental de Berlin. Cheio de prédios parecidos construídos na era comunista, acabou atraindo estudantes no período após a unificação, em razão do baixíssimo preço dos aluguéis e da proximidade do centro da cidade. Hoje, em razão da população majoritariamente jovem da vizinhança, o local tornou-se uma das melhores opções para sair à noite e para se hospedar. Há dezenas e dezenas de barzinhos, boates, mercadinhos, farmácias, lojinhas, fazendo do bairro um lugar bem aconchegante, apesar da má impressão inicial.

Ao contrário de Kreuzberg, que se tornou moradia de imigrantes (legais e ilegais) e lugar preferido dos punks, é tranqüilo andar até mesmo à noite por Friedrichshain.

O albergue para onde fomos era da rede alemã A&O. Como eu e o Rafael havíamos gostado muito do A&O de Praga, no ano anterior, não tivemos dúvida em escolher um deles para nossas quatro noites em Berlin. Existem três A&O na cidade: um em Mitte, no centrão de Berlin Oriental; um na Kurfurstendamm, em frente ao Zoo, no centrão de Berlin Ocidental e o nosso, em Friedrichshain.

Confesso que esperava mais do lugar, em alguns aspectos. O prédio parecia um internato gigante, com uma cara bem “institucional”. A pior coisa, no entanto, era o grande número de adolescentes e pré-adolescentes no lugar, muitos deles inclusive viajando em excursões de colégio, o que dava aquele imaginável barulho nos corredores a qualquer hora do dia e da noite.

Os pontos positivos, no entanto, eram muitos também. Os quartos eram enormes (ficamos num quarto de 8 pessoas), com banheiros privativos, com lockers gigantes (que permitiam inclusive organizar e separar as coisas, já que tinham prateleiras internas) – tudo muito limpo e organizado. O barzinho que havia na entrada era o melhor em que já estive num albergue. Era separado do prédio dos dormitórios, para não fazer barulho, vendia chopp a 1 euro e alguns centavos, tinha mesinhas de sinuca e sofás, tudo num ambiente muito legal e que estimula a interação com outros viajantes. O café da manhã, servido no andar subterrâneo do prédio de quartos, também era muito bom – mas isso não é novidade em se tratando de albergues alemães.

O preço da diária, como tudo mais em Berlin, estava abaixo da média do que se paga em outras capitais européias. Havia ainda cartões baratos para internet e telefone à venda na recepção – que, para completar a história, contava com uma atendente brasileira.

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