Colonia del Sacramento

Colonia del Sacramento é uma das cidades mais antigas da região da Bacia do Rio da Prata e tem a peculiaridade de ter sido fundada por portugueses, em meio a terras que quase sempre falaram espanhol.
 
Nas idas e vindas da linha que marcava a divisão da América do Sul entre espanhóis e portugueses, pelos Tratados de Tordesilhas, de Madrid e de Santo Ildefonso, a cidade foi uma tentativa da Coroa Portuguesa de se afirmar como um poder na região, evitando deixar todo aquele importante canal de navegação exclusivamente nas mãos dos espanhóis, já instalados em Buenos Aires. Aliás, à noite é possível ver as luzes de Buenos Aires, a dezenas de quilômetros do outro lado do rio, brilhando no horizonte.

A cidade foi, inclusive, a mais importante fortificação na província Cisplatina, parte do Império do Brasil até a independência do Uruguai, logo depois da Guerra que levou o nome da província.

Por tudo isso, até hoje é possível ver em Colonia muita influencia portuguesa, desde nomes de ruas e restaurantes, até nos azulejos típicos da nossa antiga metrópole. 

Só fui conhecer a cidade em junho de 2010, quando fui de carro daqui de Santa Maria até lá. São pouco mais de 700 km, a maior parte deles na Ruta 5, estrada que corta o pais de norte a sul, entre Rivera e Montevideo. Com alguns desvios por Trinidad e Cardona, não foi difícil chegar lá. Muita gente, como eu, prefere deixar o carro num estacionamento em Colonia para seguir viagem a Buenos Aires de barco, e fazer as coisas na cidade argentina de metrô ou de táxi. Ao invés de seguir viagem sem uma parada, porém, decidi dormir uma noite na cidade e reservar umas 24 horas para conhecê-la decentemente.

Reservamos um hotel bem pertinho do famoso pórtico do centro velho, onde a circulação é parcialmente restrita, e fizemos tudo a pé.

A cidade é uma das mais tranquilas que já conheci, com bem pouca gente circulando, muitas árvores fazendo sombra e largando folhas nas ruas, que ainda são em sua maior parte de paralelepípedos. Como a maioria das cidades uruguaias, as casas são quase todas emendadas umas nas outras, com apenas um andar e com ornamentos do início do século nas fachadas. Claro, o fato de ser o dia de estreia da seleção uruguaia na Copa do Mundo de 2010 também contribuiu para que ainda menos gente estivesse fora de casa – mas depois que o jogo acabou só se viu um pouquinho mais de movimento.

Apesar do aparente tédio dessa descrição, o lugar cativa e até dá vontade de vir outra vez, para ficar sem fazer nada. Come-se muito bem nos restaurantes e bares e também é possível arranjar alguns roteiros culturais, históricos ou de observação da região em embarcações. Parece um lugar parado no tempo com algumas cenas que até remetem a uma coisa meio Cuba, tipo um carro dos anos 50 parado num meio-fio todo bonito e outro ainda mais velho já sendo usado como floreira.

No cartão postal de Colonia, o pórtico principal, uma entrada na muralha que protegia a cidade, ainda é possível passar por cima de uma ponte elevadiça, sustentada por pesadas correntes. Do lado de dentro do centro antigo, também é possível subir nas muralhas e caminhar em alguns trechos. Não é muito alto e até tenho minhas dúvidas da eficácia daquela construção como proteção.

Logo ali, do lado de dentro, fica outro ponto conhecido da cidade, a Calle de los Suspiros, uma ruazinha preservada com casario de quase 200 anos. As explicações sobre o nome da rua vão desde o fato de ter sido lugar por onde passavam os prisioneiros condenados, até a circunstância de ter sido a zona da luz vermelha da cidade por um período.

Outra atração próxima é o farol, mantido pela Marinha uruguaia, e que pode ser visitado pagando um ingresso baratinho. Uma escadaria em espiral leva ao ponto onde se faz a manutenção do holofote e a uma sacadinha circular de onde se tem uma vista legal da cidade a partir de seu centro antigo.

Ali ao redor, no fundo da praça, há algumas ruínas de prédios que foram usados pelo governo da cidade em tempos coloniais e de igrejas e capelas que existiam. 

Entre essas ruínas e o porto, fica um museu do azulejo, que não precisa de mais do que alguns minutos para ser conhecido.

O porto da cidade tem um paredão que possui uma calçada que chama para uma caminhada. Indo em direção à marina, onde existem alguns iates privados e outros barcos menores, passa-se por alguns cafés e bares que também pedem um momento de descanso.

Foi por ali mesmo, com a bela vista do por do sol no Rio da Prata, que terminamos aquele dia, já em clima de comemoração do Dia dos Namorados, que começaria na manhã seguinte para nós, brasileiros. Depois de voltar para o hotel, só saímos para jantar num lugar chamado Anjo Preto, na outra praça do centro antigo, com música ao vivo e comida muito boa também.
 
 
 
Um passeio mais completo pela cidade teria ainda que contemplar uma visita à antiga arena de touros, que foi feita numa época em que um empresário argentino queria tornar a cidade uma referencia regional em lazer – mais ou menos aquilo que deu certo em Punta e, em certa medida, em Piriápolis, mas que não passou de um empreendimento mal sucedido em Colonia. Para quem curte (e tem dinheiro), a cidade ainda oferece campos de golfe, além de um shopping de grifes internacionais, na região mais próxima da saída para Montevideo.

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