Londres à noite

Nossas noites em Londres quase sempre terminavam cedo, mas todos os dias, com exceção de um em que choveu forte, fizemos pelo menos alguma coisa antes de ir dormir.

Depois dos dois primeiros dias conhecendo a região no entorno do Soho e do Piccadilly Circus (e gastando uns pilas no Trocadero), dos quais já falei nos primeiros posts, num dos nosso finais de tarde pelo centro da cidade saímos direto da National Gallery para um pub, na hora em que todo mundo está fazendo o happy hour do trabalho, e por ali ficamos bebendo até mais tarde.

Um fenômeno relativamente novo estava ocorrendo naquela época: todo mundo tinha começado a beber na rua, do lado de fora do pub. No ano de 2007, o fumo foi proibido no interior dos pubs e a reação foi quase imediata: as pessoas começaram a levar seus copos de cerveja para a calçada.  O governo veio para cima dos estabelecimentos, exigindo que eles não deixassem que as pessoas atrapalhassem o trânsito, e o resultado acabou sendo o de que todos tiveram que contratar seguranças que não deixam as pessoas saírem exatamente da calçada que pertence ao pub - nem na sarjeta, nem nas calçadas dos prédios vizinhos; só na frente do pub.

A cena chegava a ser um pouco surreal: um aperto desgraçado de gente em cima de um espaço que não tem fronteiras com os demais espaços vazios, mas que fica sendo vigiado por um segurança, que não deixa nenhum cliente sair dali. Do lado de dentro do pub, em compensação, havia vários espaços vazios - basicamente só se entrava lá para pedir mais uma cerveja. 

Em outras das noites decidimos fazer parte de uma caminhada noturna pelos lugares historicamente ligados ao rock and roll em Londres. O aviso, que estava na área de uso comum do albergue, dizia apenas para deixar os nomes na recepção e estar no ponto de encontro às 20h30, que um guia voluntário viria para levar o grupo. Na hora marcada, comparecemos mas o grupo era formado apenas por nós dois, uma mulher e o próprio guia. Depois de uns 15 minutos esperando para ver se mais alguém aparecia, saímos andando pela cidade ouvindo as explicações do carinha - basicamente um cinquentão ainda entusiasmado com as histórias das bandas inglesas mais famosas. 

Passamos em frente às gravadoras em que Beatles, Rolling Stones e até o Oasis gravaram alguns de seus discos. Passamos também em frente ao prédio em cujo terraço os Beatles fizeram a sua última apresentação conjunta. 

Conhecemos o prédio onde Yoko Ono encontrou John Lennon, cafés que apareceram na capa de discos, a Carnaby Street e uma série de outros lugares ligados à indústria musical e aos anos da swinging London dos 60.

Passamos pela região onde estão os melhores alfaiates da Inglaterra, na Saville Row, e pela mercearia que fornece as "groceries" para a Família Real Britânica também. 






Depois de mais de duas horas e meia de caminhada e muitas explicações sobre a história de cada lugar, nos despedimos, e até hoje não sei se o cara estava esperando alguma gorjeta ou não - muito embora tivesse reforçado que fazia aquilo voluntariamente, ficou um clima meio estranho. 

Na noite de sábado, depois de voltar de Oxford, programamos a nossa única ida a uma boate em Londres da nossa semana na cidade. A escolhida foi a Ministry of Sound, que fica na margem sul do Tâmisa (um pouco longe), perto da estação Elephant & Castle do metrô.

Na época, a entrada custava £20, sem direito a consumação, e a dura que tomamos dos seguranças na entrada foi das mais "invasivas" que já vi numa boate: até por dentro das minhas meias o cara passou o dedão procurando se não estava levando alguma droga para dentro. Assim que entramos e fomos ao banheiro, entendemos a preocupação: havia gente descaradamente vendendo algumas pílulas de não sei o quê lá. 

Com relação ao lugar, digo que não tem nada demais. Aliás, boate tende a ser meio igual em qualquer lugar do mundo. Um diferencial era uma espécie de inferninho techno que havia numa sala separada das demais por um tipo de isolamento acústico. Lá dentro, o volume era literalmente ensurdecedor e só eletrônica da mais pesada tocando - acho que fiquei umas boas horas com zumbido no ouvido só de ter passado um tempo lá.

Como o metrô de Londres fecha à noite, foi nesse sábado que tivemos de usar pela primeira vez o sistema de ônibus noturno da cidade. Basicamente são os mesmos ônibus vermelhos de 2 andares que circulam de dia, só que com horários reduzidos e trajetos maiores, englobando numa só linha paradas de linhas diurnas diferentes. Nos mapinhas do metrô tem a explicação.

Nessas idas e vindas, achamos curioso naquela época o grande número de cartazes de um filme brasileiro bem conhecido aqui e no resto do mundo: Tropa de Elite...



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