Bolívia - perdendo um pouco do encanto


No meu primeiro mochilão, em 2002-2003, fiquei com uma lembrança muito boa da Bolívia. É claro que fiquei um pouco chocado por conhecer um lugar tão diferente de tudo que eu considero como “confortável” – sempre comentei que em La Paz não conseguiria levar uma vida “normal” do estilo que temos aqui no Brasil. Mas, apesar dos contrastes, da pobreza e da dificuldade em algumas coisas bem básicas, sempre alimentei um desejo de voltar lá e de conhecer outros cantos do país.

Dessa vez, porém, foi diferente.

Lembranças de viagem são, basicamente, impressões pessoais sobre cada lugar. E, exatamente por isso, nada do que eu estou escrevendo aqui é necessariamente verdade ou será a mesma percepção de outros que passarem por lá. Fato é, contudo, que perdi um pouco do “tesão” pelo país.

Não sei explicar exatamente o que mudou, mas acho que tem a ver com o clima político do país. Antes, havia uma inocência geral na população, que embora fosse muito pobre, transmitia uma sensação de segurança, maior que aqui no Brasil. Agora, parece que olham o estrangeiro como um aproveitador, um invasor, alguém não muito bem quisto no país. A rispidez das autoridades, ainda mais em função do surto de Gripe A, certamente contribuiu para essa impressão.

O nacionalismo do Evo Morales não é uma coisa que existe só no Jornal Nacional. Parece que influenciou realmente as pessoas, nas ruas, no dia a dia, a quererem “defender” a pátria contra um inimigo incerto.

O atraso do país continua, em muitos aspectos, tornando-o interessante aos olhos de quem vem de fora, mas irrita um pouco. Não deixa de ser comovente ver a admiração de um sujeito que fica impressionado ao ver que podíamos mandar e receber SMS pelo celular, mas de outro lado não é muito legal ver guardas do Exército armados com fuzis vigiando de perto os únicos caixas automáticos de cada cidade, ou tocando as pessoas de dentro de estações, a menos que elas estivessem com passagens para viajar nas mãos.

Já li em algum fórum de mochileiro de a Bolívia parece que afasta o viajante com horários absurdos de trem, exigências ridículas para reservas e necessidade de intermediação por agências locais, sem sistemas de reserva à distância, e parece realmente ser esse o caso.

Claro que, ao ter conhecido o Salar de Uyuni, já risquei da minha lista de “coisas a conhecer” um dos maiores atrativos da Bolívia, sendo que só sobraram algumas atrações que não são prioridades, como Potosí, Sucre e uma volta a La Paz.

Enfim, continuo recomendando muito que quem nunca foi à Bolívia, que o faça. Mas aconselho calma e um olhar diferente para saber aproveitar esse país tão diferente, que tem justamente a maior fronteira em comum com o Brasil dentre todos nossos vizinhos.

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