Iquique

Como eu falei no post anterior, Iquique entrou no nosso roteiro por ser um ponto estratégico entre San Pedro e Santiago, de onde voltaríamos para o Brasil de avião. Acabou sendo a escolhida, em detrimento de Antofagasta, Calama e Arica, que eram as outras opções. Em Arica já tínhamos estado em 2003, em Calama a única atração seria conhecer as minas de Chuquicamata e Antofagasta não parecia ter nada além do porto que fosse atraente. Já Iquique tinha algum interesse histórico, como vou falar a seguir, e a ZOFRI – Zona Franca de Iquique, que é sempre um atrativo para quem quer aproveitar o mochilão para voltar para casa com um tênis ou um eletrônico pela metade do que custa no Brasil.

Iquique, de certa forma, parece com uma cidade do Velho Oeste. A cidade teve um boom e crescimento no final do século XIX e início do século XX, quando se descobriu o potencial comercial das minas de nitrato em suas redondezas. Ela pertencia à Bolívia, como toda costa norte chilena até Antofagasta, mas foi tomada pelo Chile na Guerra do Pacífico, nos anos 1890, justamente nesse período de crescimento.

O nitrato era um minério que servia para a produção de pólvora e, como era de se imaginar, era um produto que despertou muito interesse na Europa e nos EUA. Com isso, vários empreendedores se instalaram na cidade e grandes levas de trabalhadores foram contratados. Os prédios construídos nessa época é que deram à cidade o ar de Velho Oeste de que falei: na sua maioria, são sobrados de dois andares, feitos de madeira e pintados em cores vibrantes, sempre com uma sacadinha no segundo andar, com colunas de madeira branca ou de ferro. O casario hoje é patrimônio histórico protegido na cidade e as casas mais velhas estão recebendo reparos. Na praça central da cidade, um símbolo dessa era: um relógio inglês com ares de Big Ben, todo branco, em frente a uma ópera e clubes de imigrantes europeus ricos.



Com a grande quantidade de trabalhadores mineiros, surgiram grandes sindicatos e vários foram os conflitos entre empregados e patrões, alguns com muitas mortes ainda lembradas em pichações em alguns prédios da cidade.

Entretanto, a produção e a exportação do nitrato entraram em declínio ainda na primeira metade do século XX e a cidade estagnou. A crise se instalou e tudo ficou meio abandonado por várias décadas, até que no final dos anos 1970, ainda no Governo Pinochet, fizeram a Zona Franca para dar um “choque” na economia. Toda a região da qual Iquique é capital ficou isenta de uma série de impostos, de modo que a cidade passou a ser o que Manaus representa para o Brasil: um lugar com fábricas de eletrônicos, onde se pode comprar carros quase sem impostos, com muita importação e exportação.

Mais recentemente, a cidade começou a investir no turismo. Abriu cassinos e melhorou a estrutura das praias, que são consideradas umas das melhores do Chile – país que tem água muito gelada na maior parte de seu extenso litoral. Hoje, a cidade também é conhecida por muita gente que gosta de surf e de sandboard – o mar é bravio e há uma gigantesca duna de areia, a Duna do Dragão, atrás do centro da cidade. Vários prédios de apartamentos estão sendo construídos nas áreas mais novas da cidade, que promete ser um lugar ainda melhor num futuro próximo.

Antes de tudo isso, bem antes do nitrato, a cidade teve papel estratégico na guerra de independência do Chile, que se separou do Vice-Reino do Peru, dependência da Coroa espanhola. Por isso, existem na cidade também algumas atrações que exploram a guerra naval vencida pelos chilenos.

Por fim, um dado importante para os chilenos: há sol e tempo bom quase o ano inteiro – exceto quando estivemos lá, pois a neblina e o tempo nublado foram a cara mais comum que o tempo nos mostrou!

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