Na estrada

Ao deixarmos a caminhonete na qual viajamos por três dias, encontramos uma fila de gente embarcando num ônibus para San Pedro de Atacama, que também era o que deveríamos tomar. O próprio guia, antes de se despedir, foi quem nos encaminhou ao ônibus da agência Cordillera.

Não demorou mais do que meia hora até começarmos a curta viagem até San Pedro.

O primeiro trecho de estrada, de menos de 20km, é de terra, ou melhor de ripio. As paisagens são as melhores do trecho: a outra face do vulcão Llicancáhur, aquele mesmo que se vê desde as lagunas do altiplano. O detalhe é que, do lado chileno, pode-se ver com mais clareza a calota de neve permanente que existe no topo.

Dizem os guias que naquela neve no topu do vulcão há um lado com espécies aquáticas que constituem um bioma único no mundo, com espécies de crustáceos que não são encontrados em nenhum outro lugar.

Assim que o trecho de terra termina, entra-se numa estrada muito bem conservada, bonita, e quase toda em declive, até San Pedro. É a mesma estrada que passa pelo Paso de Jama, na fronteira com a Argentina, e na qual eu já tinha passado com o Diego cerca de 6 anos antes. Dessa vez, parecia ainda mais bonita - talvez pelo contraste com a pobreza da Bolívia, com a qual tínhamos convivido nos últimos dias.

A estrada é utilizada principalmente por caminhoneiros, inclusive brasileiros, que fazem o transporte de carga em direção ao porto de Antofagasta. Como o trecho tem longos declives, saindo de uma altitude que beira os 4.200m para algo abaixo de 3.000m, há várias saídas de segurança, com barreiras de pedra brita e pneus nas margens da estrada, para um caso de emergência em que os freios de um caminhão venham a falhar.
Nesse ponto, como em quase todo o Chile, já há sinal de celular, e pudemos dar sinal de vida para namoradas e família. Não demorou muito e estávamos chegando em San Pedro. São pouco mais de 50km até a entrada do parque nacional boliviano em que ficam as lagunas.

A fronteira chilena, nesse ponto, é avançada. Fica na cidade de San Pedro de Atacama, o que significa que, do momento em que o motorista sai da Argentina ou da Bolívia até chegar em San Pedro ele não está, oficialmente, em nenhum país, porque ainda não deu entrada formal ao Chile - embora esteja em território chileno.

Na aduana, o motorista do ônibus enfático para que todos coloquem fora quaisquer frutas, folhas de coca ou artesanato de madeira, porque os fiscais chilenos são muito rigorosos com a fiscalização dessa proibição de entrada, que visa preservar a agricultura do país. Nem tanto assim: um de nós apenas perguntou ao fiscal se poderia entrar com um saquinho de folhas de coca, o sujeito deu uma olhada e liberou... Vai entender?!

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