Como é voar com a Ryan Air
Apesar de viajar para a Europa quase todos os anos desde
2006, até abril de 2012 eu nunca tinha voado com a maior companhia aérea
daquele continente, na atualidade: a Ryan Air.
A companhia low cost que mais transporta passageiros na
Europa e que inclusive voa para o norte da África tem origem irlandesa e é
famosa mundo afora por algumas esquisitices e planos mirabolantes. Dois
exemplos são o anúncio de que passaria a cobrar pelo uso do banheiro, e o de que
seria a primeira companhia a abolir os bancos e deixar os passageiros em pé
quando a agência europeia responsável pelo transporte aéreo autorizasse. Puras jogadas de marketing (falem mal, mas falem dela!).
Fato é que a companhia já foi processada em diversos países
por práticas que ofendem os direitos do consumidor, principalmente por violação
do dever de informação. E esse é o maior cuidado que quem escolhe voar com a
companhia tem que tomar: ler tudo, inclusive as letras miúdas, e prestar a
atenção em cada clique que dá na página de compra das passagens.
O preço anunciado pela Ryan Air entre um destino e outro
aparentemente sempre é muito baixo e mais competitivo do que as companhias
tradicionais, mas ele simplesmente não inclui nada além da passagem
propriamente dita e, ainda por cima, está condicionado à compra do retorno com a
mesma companhia.
Para nós, a Ryan Air era a opção óbvia, porque estava
estreiando naquela semana um voo direto entre Sevilla e Marrakesh, por cerca de
45 euros por pessoa cada trecho. No final, acabou dando uns 180 euros por pessoa a ida e a
volta, mas mesmo assim atendia às nossas necessidades e valeu a pena.
O preço de partida, da passagem sofre a incidência de taxas
de combustível (igual para todos os voos que vem ou vão da Europa), impostos
(que variam de país para país) e ainda uma taxa de emissão do eticket pelo
site. A passagem não dá direito a nada além de uma bagagem de mão de até 5kg;
bagagem despachada acresce a partir de 15 euros por pessoa (quanto maior o peso
comprado, maior a taxa) e, obviamente, tivemos que acrescentar porque não dava
para ir todo mundo só com bagagem de mão passar 5 dias em outro país.
Além disso, a passagem não dá direito a assento marcado e
muito menos a que os assentos sejam juntos. Poucas pessoas reservam assentos, e
nesse caso pagam uma taxa de uns 3 euros e chegam lá e sentam no seu lugar
reservado. Os demais sentam por ordem de chegada e fica aquela correria que já
seria de se imaginar. Foi o que fizemos e deu tudo certo, sempre sentamos os três juntos.
A comida e a bebida, nem se fale: nada está incluído. Se
quiser comer ou beber a bordo, pode reservar (sai mais barato) já com a
passagem. Se não, pode pagar diretamente às aeromoças, em dinheiro ou cartão. A legislação,
entretanto, obriga os aeroportos a deixar bem claro que os passageiros podem
levar comida comprada em terra para o avião.
Por fim, ainda uma última taxa: a de check in. Se você não fizer
seu web check in e/ou não levar seu cartão de embarque na hora, terá que pagar mais
taxas para que os agentes façam isso por você.
Embora não seja cobrado, há também a necessidade de colocar
um carimbo de que está tudo OK com seu passaporte se você não for cidadão europeu.
Isso é feito no mesmo balcão de despacho de bagagem em alguns aeroportos, e
noutros é no balcão de informações da companhia.
As medidas máximas e o peso das mochilas são conferidas com
rigor científico e qualquer excesso é cobrado. Não tem jeitinho brasileiro que
resolva. Se passou da cota comprada ou da franquia, paga – ou não embarca. (A
Ryan Air inclusive vende bagagens que estão garantidas pela própria companhia
como tendo as dimensões corretas para embarque.)
Ah, já estava esquecendo: quer pagar com cartão de crédito?
Tem uma taxa extra. O único meio de pagamento que não cobra um extra é o cartão
de débito. Hehehe.
Depois que você passou por todas as telas em que todas as
opções são oferecidas (há pelo menos umas três ofertas de seguro de viagem além
de tudo isso, que você precisa recusar para ir adiante sem pagar mais),
finalmente a passagem é debitada do seu cartão e enviada para o seu e-mail.
Quinze dias antes do voo já é possível fazer o check in, por isso já saí daqui
no Brasil com os cartões de embarque impressos. E-mails avisam eventuais alterações
de horário e ficam constantemente lembrando as regras da companhia até o dia da
viagem (chega a estressar).
Nos voos propriamente ditos, nada demais.Eram Boeings 737,
tipo os da Gol.
Na ida, atrasou uma hora e meia e por isso tomamos um belo chá
de aeroporto, mas na volta foi tudo muito pontual (o sistema de som dá
inclusive uma musiquinha comemorando a chegada em cima da hora marcada do
avião). As poltronas são um pouco mais apertadas do que o normal, mas não é
tanta coisa (até porque a aviação não tem mais como espremer as pessoas do que
aquilo que já se faz aqui no Brasil). Não há nenhum entretenimento, só anúncios
publicitários nas poltronas, no sistema de vídeo e nas revistas, por isso a
maioria leva um tablet, um ipod ou um notebook para se distrair.
Se eu voaria de novo? Sim. Eles têm rotas que nenhuma outra
companhia tem e atingem os lugares mais escondidos da Europa.
Se eu recomendaria? Sim, desde que a pessoa esteja ciente de
que tem que ler tudo antes de marcar qualquer opção e desde que não esteja
viajando com malas gigantescas.
Comentários