Tentando entender Marrakesh


Na nossa primeira saída do hotel, cerca de uma hora depois do check in, tratamos de tentar encontrar nosso caminho até a praça que é o centro de Marrakesh e a sua maior atração turística: a Djema El Fna (ou Jamaâ El Fna, tudo depende do tipo de transliteração utilizado).

O caminho até a praça já seria uma aventura em si. Por mais que se tenha um mapa aberto nas mãos, a absoluta ausência de placas, a existência de becos não mapeados e a confusão mental que aquele excesso de movimento, cores, objetos à venda, pessoas, cheiros e barulhos fazem com que qualquer pessoa que chegue pela primeira vez à cidade hesite várias vezes antes de seguir em frente, após cada esquina ou bifurcação.

E agora?

Uma breve explicação acerca do mapa urbano de Marrakesh: a Medina, ou cidade velha, é a área que fica dentro da muralha de cerca de 19km, na qual só se entra de carro até umas espécies de praças, todas asfaltadas e tomadas por comerciantes. Dali em diante, só se circula a pé, de moto ou de carroça. A Kasbah é uma área ainda mais apertada, dentro da Medina, na qual moram atualmente pessoas ainda mais humildes.

Ruela na Kasbah

As ruas (designadas nos mapas como “Rue”, em francês) são as vias principais, com saída para outras ruas ou praças. Nessas ruas, basicamente só existem comércios, restaurantes e mesquitas. Geralmente só existe uma ou duas “rues” em cada “bairro” da Medina, também chamado de “riad”, em referencia às mansões que ficavam nesses lugares. Ao lado de cada rua, há inúmeros becos sem saída, chamados de “derb”, que dão acesso às residências e aos hotéis.

 Uma rua próxima à Djema El Fna
O Derb El Hamman, com a entrada do nosso hotel

Alguns “derbs” são unidos entre si por lojas com saídas dos dois lados e, quando há uma concentração muito grande dessas lojas, os comerciantes se unem para cobrir a rua com telhas ou tapumes, formando galerias comerciais, que são os “souks”, ou mercados. Esses são os lugares mais de se perder.

Um souk

No nosso caso, o Riad Lena, onde estávamos hospedados, tem como endereço simplesmente “Derb El Hamman, 8, Marrakesh”. Para chegar lá, precisaríamos saber que estávamos no bairro “Riad Laroous” e que tínhamos que pegar a Rue Sid Abd El Aziz até encontrar a entrada do Derb, de onde andaríamos mais uns 20m até a porta do hotel.

Olhando o mapa sem conhecer a cidade, eu pensava que seria relativamente fácil adotar como pontos de referência as várias mesquitas que existem na Medina, a exemplo da Bem Youssef e da Koutoubia, mas não poderia estar mais enganado. Do nível da rua, simplesmente não se enxergam essas mesquitas e nem mesmo as suas entradas, porque as ruas são estreitas e tomadas de prédios de dois andares ao redor. O máximo que se vê, depois de uma observação cuidadosa, são portas com uma lua crescente em cima, um aviso de que é proibida a entrada de ocidentais e um movimento de gente entrando e saindo maior do que o normal. As torres só são vistas de espaços mais abertos, à distância.

Perder-se na Medina é a coisa mais normal do mundo para quem vai a Marrakesh, e até por isso crianças e jovens vivem se oferecendo para ajudar turistas a encontrar a praça Djema El Fna ou para levá-los de volta ao hotel em troca de dinheiro. Se não estiver disposto a pagar, não aceite ajuda, porque ela sempre será cobrada (no nosso quinto e último dia, faltando uma hora para irmos para o aeroporto, acabamos caindo numa dessas).

Outra coisa que só se aprende depois de algumas horas na cidade é que é melhor sempre andar rente às paredes, porque há muito vai e vem de motocicletas, bicicletas e carroças, às vezes numa velocidade desproporcional para a estreiteza das vias e a quantidade de pessoas circulando. Andar pelo meio da rua é certeza de buzinada no ouvido e um susto na ultrapassagem.

Só há transporte público do lado de fora da Medina. Se sair dela, por exemplo, para ir à Cité Nouvelle, ao shopping ou ao aeroporto, e quiser voltar de táxi, precisará saber o nome do Riad (bairro) em que deseja descer. Por não entenderem direito o que os turistas falam, os taxistas tendem a querer levar todo mundo para a Djema El Fna.

 Cidade Nova à noite
Praça Djema El Fna

Também do lado de fora da Medina, estão os hotéis de redes internacionais, resorts, parques aquáticos e uma grande concentração de restaurantes franceses e italianos – além, é claro, de subúrbios populares formados por grande conjuntos habitacionais e condomínios fechados de luxo.

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