Dinheiro

Dinheiro foi um dos fatores que mais determinou a forma como nosso primeiro mochilão aconteceu (tudo muito, muito econômico!). Logo nos primeiros posts, relatei que juntei o que precisava para viajar economizando a bolsa recebida no estágio, mas que tudo acabou ficando um pouco mais sofrido por causa do câmbio, que estava fazendo US$ 1,00 custar cerca de R$ 3,65 às vésperas da viagem.

Com a experiência daquele mochilão e de outros que acabei fazendo nos anos seguintes, acho que dá para enumerar algumas dicas a respeito desse assunto...

QUANTO VOU PRECISAR JUNTAR?

Acho que essa pergunta não tem uma resposta padrão. Não acredito muito naquelas estimativas que dizem que vc vai precisar de tantos dólares por dia. Cada pessoa é diferente da outra e vai fazer coisas diferentes; logo vai gastar quantias diferentes, nuns dias mais, noutros menos.

Na viagem que relatei nos tópicos anteriores, tirando os gastos que tive com a compra da mochila, de algumas roupas e da primeira passagem de ônibus (Santa Maria a Campo Grande), gastei inacreditáveis e míseros US$ 440 (cerca de R$ 1.600 em valores da época). Como levei 600 dólares, ainda sobrou dinheiro para torrar em outro mochilão a Buenos Aires e Montevideo, alguns meses depois.

Estipule o máximo que vc quer e pode gastar. Leve em consideração os gastos principais, como trajetos aéreos e trajetos mais longos de ônibus, pesquisáveis pela internet, o valor da Trilha Inca, algum passeio importante. A isso, some uns 10 dólares por noite em albergues no Peru, na Bolívia e na Argentina; uns 15 dólares por noite em albergues chilenos. Com relação à alimentação, vai depender da sua intenção de comprar comida em mercados ou ir a restaurantes e lancherias. No primeiro caso, uns 8 dólares por dia dão muito bem conta do recado. Se a idéia é comer fora, coloque uns 15 dólares por dia. Valores para entrar em museus ou outras atrações são muito pequenos nesses países ao nosso redor, por isso não se preocupe tanto.

O mais importante é ter uma meta de gastos, minimamente próxima da realidade, que no mais vc se encarrega de cumpri-la, aproveitando mais certas coisas e cortando em outras. Sei que nada do que disse aqui ajudou muito, mas só depois de fazer um mochilão vc vai descobrir o próprio perfil.

COMO VOU LEVAR MEU DINHEIRO?

Naquela época, não tínhamos cartão internacional, então o jeito foi levar dólares mesmo. Não adianta querer levar real - pagam muito pouco por ele longe das nossas fronteiras. Euro é cada vez mais aceito, mas não é unanimidade.

Se for levar dólar, evite notas de 100, bem como cédulas muito amassadas ou muito velhas; rasgadas então, nem pensar. Notas que não tenham boa aparência só são aceitas em bancos (que cobram altas taxas e têm valores mínimos de troca), quase nunca por cambistas.

Se você tem acesso a cartões de crédito ou débito, eles são a melhor opção. Qualquer cidade que não seja um mero vilarejo tem algum banco com caixa automático das redes Plus (usadas pelos cartões Visa) ou Cirrus (usadas pelos cartões Master). Basta habilitar seu cartão para saque no exterior e qualquer desses caixas automáticos servirão para sacar dinheiro em moeda local. Para evitar pagar muitas taxas, saque quantias relativamente grandes.

Se você não tem cartão internacional, pode cogitar levar um Visa Travel Money, que é como um cartão de débito pré-pago. Você "carrega" o cartão antes de sair e vai sacando ao longo da viagem. A maioria dos bancos oferece a quem já for cliente.

Traveller checks são coisa difícil de trocar na América do Sul e você acaba perdendo muito na cotação. Não são uma boa escolha e podem te deixar na mão.

COMO TROCAR PELA MOEDA LOCAL?

Antes de viajar, é uma boa idéia conhecer as cotações de cada moeda dos países pelos quais se vai passar. Duas formas fáceis de ver a cotação são acessando a lista de moedas do portal de economia do Terra (Invertia) ou pelo Conversor de Moedas do Banco Central, que permite saber quanto vale cada moeda em qualquer outra moeda.

Outra boa é conhecer, visualmente, as cédulas mais usadas de cada país, para não ser enganado com algum bilhete sem valor algum. Na figura abaixo, as 4 cédulas de menor valor do Peru, da Bolívia, do Chile e da Argentina:

Se você está levando cartões de débito ou crédito internacionais, nem vai ter que se preocupar com cotações - a máquina sacará quanto vc pedir e descontará pelo valor do câmbio turismo na sua conta ou fatura de cartão de crédito. (Obs: em alguns cartões, como os da Caixa, a cotação é pelo dólar comercial, o que é bem melhor.)

Se está levando dólar ou outra moeda de troca, a dica é só trocar pela moeda local à medida que for necessitando. A cada operação de câmbio você perde cerca de 10% do seu dinheiro, por isso deve fazê-las o mínimo possível. Por exemplo: chegar no primeiro país (Bolívia) e trocar tudo por bolivianos, para depois trocar esses bolivianos por soles (Peru) é uma furada. O negócio é trocar só uns 50 dólares pela moeda local e gastá-la toda. Depois mais uns 50, e gastar toda, e assim por diante.

Há cambistas em todos os lugares turísticos e nas fronteiras, seja casas de cãmbio ou pessoas na rua mesmo. Sempre barganhe a cotação com eles. Os bancos, como eu disse, cobram taxas mais altas e só trocam a partir de determinada quantia.

OUTRAS DICAS

- Faça os pagamentos (compras, passeios, hospedagem) sempre em moeda local, porque senão, no arredondamento, vc sempre sai perdendo. Só vale a penas pagar diretamente em dólar se o preço for em dólar (Trilha Inca, determinados passeios, etc).

- Guarde sempre alguns trocados. Quase ninguém tem troco e sempre vai "ficar devendo" para você se você pagar com notas mais graúdas.

- Antes de se livrar de todo seu dinheiro na saída de um país para outro, pergunte-se se ainda não há mais nenhuma taxa a ser paga em moeda local (taxas de saída de aeroportos na Argentina, taxas de embarque nas rodoviárias no Peru e na Bolívia, taxas pelo uso de banheiros nas rodoviárias, etc.)

- Barganhe, pechinche, muito! Na Bolívia e no Peru tudo é negociável, do preço da passagem de ônibus, passando pela hospedagem até a comida, os presentes, tudo. Eles sempre jogam o preço lá em cima esperando que vc peça desconto.

- Tenha sempre alguns dólares ou euros como reserva de emergência, caso seu cartão se perca ou seja roubado ou mesmo bloqueado.

- Guarde seu dinheiro no money belt enquanto passeia, junto com o passaporte e um cartão (se tiver 2). Durante as viagens, distribua o dinheiro em mais de um lugar.

- Só use serviços de remessa de dinheiro ao exterior (da sua família para você) em casos extremos, pois as taxas são bem altas e às vezes demora bastante.

Comentários

Unknown disse…
O mochilão que fez e gastou míseros US$ 440, ficou quantos dias????
A. A. Cella disse…
Esse mochilão de USD 440 foi entre dezembro de 2002 e janeiro de 2003, 19 dias ao total, passando por Bolivia, Peru, Chile e Argentina. Ficávamos sempre em albergues baratos, só viajamos de trem e ônibus, comíamos apenas menus em oferta ou comprávamos comida no mercado e bebemos muito pouco bebidas alcoolicas.
Só que tem que se levar em consideração que o dolar estava R$ 3,65, ou seja, bem mais do que agora.

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