Madrid: a noite

Depois de um sábado cheio de passeios, voltamos do Santiago Bernabeu para o albergue, novamente pelo metrô. Estava quase anoitecendo, mas como as coisas só acontecem na Espanha bem mais tarde do que aqui, decidimos dar uma sesteada para só depois jantar e sair à noite.

Isso, na minha opinião, é essencial para aproveitar bastante em países com hábitos mais noturnos, como Espanha, Argentina, Uruguai, etc. Depois de passear um dia inteiro, normalmente você estaria caindo de cansado para jantar e ainda sair, mas uma dormida de uma hora já é o suficiente para revigorar os ânimos.

Comemos uma pizza na pracinha próxima ao albergue, no fim da Calle Espíritu Santo e já começamos de leve na cerveja. Na noite anterior, já tínhamos visto como funciona a noite naquela região: o pessoal fica indo de bar em bar, bem à vontade, para só depois entrar em algum lugar do estilo boate.

Antes de sair, pegamos umas dicas com o pessoal que trabalhava no albergue. Foi aí que eles nos deram uma entrada grátis para a Pacha, uma das maiores boates da cidade e uma das maiores redes de boates do mundo (agora ficou mais conhecida no Brasil por causa da inauguração de uma em São Paulo). Na brincadeira, significou uma economia de 15 euros!

Bom, voltando à pizza, depois que terminamos, seguimos para os barzinhos ao longo das ruas de Malasaña. É um do lado do outro, parece praia. Muitos não cobram nada para entrar; poucos têm lugares para sentar. Alguns têm som ao vivo, mas a maioria tem música eletrônica, pop internacional ou latina, conforme a proposta do lugar. Como eu já falei em post anterior, o assédio dos funcionários de cada bar é intenso - abordam quem passa na rua oferecendo drinks grátis, ou promoções do tipo pague 2 leve 3.

A maior parte do pessoal é de estudantes locais mesmo, dos 18 aos 30 anos. Não há tanta concentração de turistas, como se vê em Barcelona, por exemplo.

Por volta das 2hs, o movimento já começa a se dispersar mais, com o pessoal indo para outros tipos de lugares, como as boates. A Pacha ficava bem pertinho do albergue, e foi para lá que fomos.

Eu já tinha lido isso antes de sair do Brasil, numa comunidade do orkut, e só obtive a confirmação na entrada da boate: para entrar em lugares assim, tem que estar usando sapato e calça. Roupa esportiva (leia-se tênis, bermudão, havaianas), coisa mais usada nos bares, é ser barrado na certa. Não adianta nem discutir com os bruta-montes da entrada.

Tem gente que diz que boate é tudo igual, em qualquer lugar do mundo, assim como shopping center. Mesmo assim, eu acho muito legal conhecer a noite em outros lugares. O clima sempre é diferente, embora as músicas que tocam nem sempre o sejam, hehehe. É impressionante como quase não há novidades por onde se vai. Coisas que tocam lá em 3 meses estão tocando aqui, e vice-versa. Hoje em dia é comum ouvir música brasileira (nem que seja um funk carioca ou "Chorando se foi") numa boate européia.

Só não dá para querer encher a cara dentro de boate. Uma cerveja long neck acaba sempre saindo, no mínimo, uns 5 euros, o que quebra qualquer um. O energético (Red Bull, Speed...), em compensação, sai mais barato do que num supermercado brasileiro (cerca de 2 euros). Água custa quase tão caro quanto cerveja, às vezes até mais (dizem as más línguas que é porque é a única coisa que se deve tomar quando se toma ecstasy, aí eles cravam a faca no preço).

Na Espanha, a noite parece em algumas coisas com o Brasil. O povo é animado, brinca e ri muito. Dá para se sentir bem em casa. Quem destoa são os grupinhos de americanos, que são vários nas boates, sempre daquele jeito meio esquisito deles. Dos ingleses, eu aprendi a não gostar depois de ter ido a Ibiza, mas isso é história para outro dia.

Bom, já que o assunto é noite, vou antecipar como foi a noite de domingo. Na manhã daquele dia, ainda meio de ressaca, encontrei incrivelmente por acaso, numa estação de metrô, o Felipe e um amigo dele, que estavam começando um mochilão pela Europa. O Felipe é um colega meu do Rio de Janeiro que tinha descoberto, por acaso, sobre a minha viagem numa comunidade do orkut, quando eu estava pedindo dicas. Conversamos por e-mail e ficamos certos de nos encontrar nos pontos da viagem em que estaríamos na mesma cidade. A coincidência foi isso ter acontecido por acaso, numa estação de metrô.

Ali mesmo combinamos de nos reencontrarmos pela noite, para fazermos alguma coisa, os 4 juntos. Mais tarde, nos ligamos e marcamos na Puerta del Sol, bem no centrão. O Felipe tinha ouvido falar que o pub crawl que partiria do albergue dele (o Cat's) valia a pena e propôs que fizéssemos. O Rafael, que já tinha participado de outros em outras viagem, incentivou a idéia e acabamos fechando.

Pub crawls, para quem não sabe, são passeios guiados por alguém, aos quais os interessados aderem de última hora. Geralmente partem de albergues ou de pontos turísticos conhecidos. Têm como objetivo reunir grupos de mochileiros para ir de bar em bar (geralmente 3 ou 4 bares, com permanência de meia hora ou uma hora em cada um), com brindes do tipo um drink de graça em cada bar, ou cerveja liberada até tal hora, sempre com entrada grátis para os bares. O final da noite, no geral, é numa boate.

No caso, o pub crawl que fizemos em Madrid era organizado por um brasileiro. Pagamos cerca de 15 euros e entramos no tour com mais umas 20 pessoas. É legal porque o pessoal acaba te levando em bares que sabem que vai dar bom naquele dia e porque, como já há um grupo, é diversão na certa. No primeiro bar, tinha cerveja liberada no balcão. Ficamos por ali cerca de uma hora.

Lá pelas tantas, lembramos que ainda não tínhamos jantado e foi aí que tive minha primeira experiência com um kebab. Kebab (ou mais especificamente döner kebab, ou kebap döner) é um lanche rápido de origem árabe, que existe quase em qualquer esquina de cidades grandes na Europa, em razão do grande número de imigrantes marroquinos, turcos, argelinos e tunisianos. Consiste, basicamente, num pão do tamanho de pão de hamburger, aberto só de um lado, com alguma salada (geralmente só alface) e um molho, na maioria das vezes à base de maionese. No meio de tudo isso, lasquinhas de churrasquinho grego. Esse churrasco é feito com um grande bloco de carne de frango ou de ovelha (com uma boa dose de gordura, cartilagem e sabe-se lá mais o quê) assado num espeto vertical giratório. Aquela carne, que parece um presuntão gigante, fica horas ali girando e à medida que eles fazem o kebab vão tirando lasquinhas da carne com uma faquinha ou outro instrumento para tirar fatias fininhas. Como custa muito pouco (geralmente uns 2 euros), acaba sendo o lanche preferido de quem quer economizar. Eu, para falar a verdade, não gostei muito, mas valeu para forrar o estômago...

Barriga cheia, voltamos para o bar e logo em seguida o grupo já saiu para o segundo e, depois, para o terceiro bar, onde só havia um drink grátis na chegada de cada um. No final da noite, fomos para uma boate num casarão histórico, cheia daqueles corredores externos típicos de palacetes árabes-espanhóis, com ambientes diferentes em cada salão. Muito legal.

Recomendo a todo mundo fazer um desses pub crawls na cidade em que estiver. Já fiz em Barcelona, Berlin, Amsterdam, entre outros, e nunca me arrependi.

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