O vôo e a chegada na Europa

Embarcamos na hora marcada. A primeira impressão do avião foi muito boa. Espaçoso nos corredores, música ambiente legal, funcionários atenciosos... Comparando com um vôo que tinha feito pela TAP meses antes, o Rafael achou aquele bem melhor, especialmente com relação às poltronas.
À medida que o pessoal foi entrando, percebemos que sairíamos com o vôo lotado. Tínhamos escolhido uma janela e a cadeira ao lado, mas a do corredor acabou sendo ocupada por um boliviano que nunca levantava para fazer nada, obrigando-nos a acordá-lo e a pedir licença todas as vezes que quisemos sair.
Apesar da exatidão do horário do embarque, logo em seguida o comandante avisou que a autorização para decolagem só sairia em meia hora, pois havia 10 aviões na nossa frente para usar a pista. Motivo: congestionamento na área de controle de Brasília (ouviríamos muito isso meses mais tarde).
Após a decolagem, liberaram o sistema de entretenimento (telas individuais com programação de filmes, animações, músicas e séries que podiam ser iniciados a qualquer momento - ou seja, não era daqueles que se tem que pegar "o bonde andando"). Cerca de 2hs depois, para a nossa surpresa, serviram a janta (deviam ser 18hs no Brasil), que se revelaria a única refeição do vôo inteiro, mesmo com 12hs de duração!!!
A opção pela Alitalia foi feita em função do parcelamento do preço da passagem, da tarifa em si, que não era tão alta, e da facilidade de retornar por Milão. Na época, a Iberia tinha os preços mais em conta, mas as greves que estouraram no período nos fizeram excluí-la das opções. Além disso, ainda havia a promessa de que milhas da Alitalia poderiam ser usadas no Smiles da Varig (então já quebrada).
Apesar da primeira impressão, o vôo não foi das melhores experiências. Como eu disse, serviram uma janta 2hs depois da decolagem e mais nada. Os funcionários simplesmente desapareceram lá atrás, causando a revolta de muitos no meio da noite que procuravam alguém para pedir algo. A temperatura ambiente também ficou muito alta, causando desconforto e até mesmo suador. Cheguei a ter que trocar de camiseta no banheiro, colocando uma mais leve.
Eu praticamente não consegui pregar o olho; só dei umas cochiladas. O Rafael, mais acostumado e todo equipado com uma pescoceira e aquelas coisinhas de fechar os olhos, até que dormiu. Depois que cansei de olhar filmes, comecei a dar umas caminhadas pelos corredores, assim como muita gente faz para não inchar as pernas.
Aquele mapinha que fica mostrando em que ponto do trajeto o avião está só fazia aumentar a expectativa. Quando o sol começou a nascer, quem abria a janelinha era repreendido pelas aeromoças, que finalmente reapareceram das sombras. Não tem nada para ver e atrapalha os que estão dormindo, diziam elas.
Quando finalmente começamos a sobrevoar o continente (e aí tinha o que ver) comecei a acompanhar pela janela. Chegamos no aeroporto de Malpensa, sigla MXP, a 54km de Milão, com uma chuva fininha e mais de 20ºC de calor. Era cerca de 8hs no horário local (GMT+1).
Confesso que estava que nem criança, feliz por ter finalmente chegado à Europa.
A descida do avião foi por escadinha e em seguida, estávamos num túnel onde pessoas de outros vôos se misturaram a nós. Possivelmente era de algum país árabe, pelas vestimentas das mulheres.
Tudo foi muito rápido, nem sabíamos exatamente o que estávamos fazendo. Uma pequena fila se formou e, ao fundo, enxergavam-se os famosos guichês com as inscrições "Comunitários" e "Extra-Comunitários", mas percebemos que as pessoas eram atendidas indistintamente num e no outro.
Até então, achávamos que só faríamos a imigração na Espanha, mas tudo aconteceu bem ali, sem que nem nos déssemos conta. Passamos os dois pelo mesmo guichê, entreguei os dois passaportes com as passagens junto e o sujeito só carimbou em algum lugar que nem vi onde foi e mandou passar.
Pronto. Já estávamos na Europa oficialmente e nem tínhamos nos dado conta. Abrimos os passaportes e descobrimos um carimbinho fraquinho, lá na página do meio do passaporte, com o símbolo "i" de Itália, entre as estrelas da União Européia, um aviãozinho, o nome "Malpensa" e a data de entrada. Sem perguntas, registros no computador ou qualquer verificação. Se tivesse matado alguém no Brasil, teria chegado lá sem problemas.
Chegamos a achar que aquilo fosse só um "visto de passagem", para passageiros em trânsito com destino a outros países.
Na parte seguinte, fomos seguindo o fluxo e chegamos um salão de verificação de bagagem de mão por raio-x e detector de metais. Ali a coisa ficou um pouco mais tumultuada, dado o volume de gente e a atrapalhação do pessoal. Não adianta: a sensibilidade dos equipamentos em todos os aeroportos é tão alta que o melhor é adiantar o serviço e ir tirando cinto, relógio, celular, colocando tudo na bagagem de mão que você vai passar pelo raio-x.
Já na área de embarque, tivemos algum tempo para ficar olhando lojinhas e para comprar refrigerante. O calor era muito grande lá dentro. O aeroporto de Malpensa passa a impressão de um lugar meio velho, estilo anos 70, e a sensação de abafamento de todas as salas só piorava.
Tivemos algum tempo também para sentar próximo aos portões de embarque e ficar esperando por ali. Perto da hora de saída do vôo de conexão para Madrid, nos deslocamos aos portões de embarque e lá, sim, estava uma muvuca. Não se distinguia fila nem destino, era uma misturança só.
Nunca imaginei ver tanta gente diferente falando tanta língua diferente ao mesmo tempo, num mesmo lugar. Essa foi a primeira impressão que tive da Europa: multicultural, cosmopolita. Para mim, aquilo ali já valia muita coisa, uma sensação muito boa. Eu só ficava tentando adivinhar que língua estavam falando e confirmava lendo o passaporte que seguravam nas mãos. Romenos, gregos, egípcios, italianos, franceses, venezuelanos, japoneses, todos misturados esperando chamarem o seu vôo. Para mim, foi a primeira vez que vi essa mescla.
Quando nos chamaram, passamos para o lado de fora e embarcamos num onibuzinho de transfer. O veículo andou o pátio inteiro do aeroporto, até que depois de uns 10 minutos chegou no avião mais teco-teco que havia, num cantinho escondido. Era o nosso avião da Alitalia até Madrid, um McDonnel Douglas de, no mínimo, 20 anos.
Entramos e o calor estava insuportável. O ar não dava muito vencimento, só fazia vento. Começou a encher de gregos ao nosso lado, falando bem alto aquele idioma incompreensível. Dali a pouco, o aviso: outro vôo cujos passageiros fariam conexão com este estava atrasado e, por isso, retardaríamos a saída. Sequer disseram quanto.
Acabou sendo de uma hora o atraso, mas foi engraçado. Chegando, a novidade nos manteve ocupados.
Na decolagem de Malpensa, uma imagem muito legal: os Alpes suíços ao fundo, o Lago di Orta no meio e cidadezinhas de Piemonte ao redor:

Comentários

Anônimo disse…
que legal ... tô curtindo seus relatos ... vlw
Roberta B. disse…
Tô adorando esse blos, é muito legal saber como são as coisas por aí!!

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