2º Dia na Trilha Inca

O segundo dia, segundo o guia, seria o mais puxado. A maior parte do tempo seria gasta em subidas até o Passo de Warmiwañuska ("Mulher Morta", em quechua), ponto mais alto da Trilha, com 4.215m de altitude. Justamente em razão do maior esforço, seria o dia de menor tempor de caminhada. A previsão era de que no início da tarde já estaríamos no próximo acampamento.

Levantamos cedo. Cerca de 5hs da manhã, chamaram-nos para o café da manhã. O dia amanheceu chuvoso, e assim continuou até a tarde.

Nesse dia, é fundamental que a pessoa mantenha o seu próprio ritmo, sem tentar acompanhar quem vai mais rápido ou muito menos os porteadores, que ultrapassam os turistas numa velocidade invejável. Creio que eu e o Diego tenhamos levado umas 4hs subindo até o passo naquele dia. O Leonardo vinha uma meia hora atrás. O Giórgio chegou uma hora antes de nós.

A paisagem vai mudando à medida que se sobe. De uma vegetação abundante, passa-se para vegetação rasteira, com pequenas árvores. É muito bonito ver nascentes de rios formadas a partir de neve derretida escorrendo aos pouquinhos montanha abaixo, ainda mais quando a pessoa lembra que tudo aquilo ali vai virar o Rio Amazonas milhares de km adiante.

O frio também aumentava. Como não saiu sol durante toda a caminhada, a sensação mais freqüente era de frio na parte da frente do corpo, exposta ao vento e à garoa, e calor nas costas, com suor causado pela mochila e pela capa de chuva.

Meus calçados foram lentamente ficando encharcados pelo lado de fora, até que comecei a sentir um pouco de água na parte da frente do pé, entre os dedos. Aí o desconforto aumentou,

As 4hs de subida alternam escadarias e trilhas de pedra relativamente inclinadas. Nesse trecho, quase tudo é original mesmo, do tempo dos incas. Só algumas pedras que rolaram por um motivo ou outro foram recuperadas.

Aproveitávamos o momento em que se tinha que dar passagem para camponeses com suas lhamas para recuar um pouco para o lado da trilha e descansar, tomando água. É fundamental curtir a paisagem, uma das mais interessantes da Trilha, porque é a mais próxima de montanhas altas.

Ao chegarmos no Warmiwañuska propriamente dito, tivemos a visão espetacular do outro lado das montanhas. Lá embaixo, o segundo acampamento. Há um marco que indica a altitude e uma área mais plana, que separa as montanhas ao lado do passo.

Ao contrário do que eu imaginava até então, a descida até Pacaymayo se revelou mais dolorida do que a subida. É mais de uma hora descendo escadarias de pedra, com degraus de uma altura que te obrigam a pular até o próximo. O impacto sobre os joelhos e tornozelos foi o mais sofrido da trilha, maximizado pela mochila e pelo cansaço das 4hs anteriores de subida. A visão do acampamento lá embaixo estimula a querer fazer esse trecho ligeiro, para chegar logo. Foi o pedaço da trilha em que mais vi gente caindo, portanto é bom tomar cuidado.

Conversei bastante com o Epifanio (guia) nesse dia, já que ele vinha num ritmo parecido com o nosso. Ele devia ter mais ou menos uns 50 anos. Contou bastante sobre o trabalho dele, como fazia para aprender inglês, como era caro morar em Cusco, falou sobre a história e os mistérios que envolvem o fim dos Incas. Era um sujeito muito agradável de se conversar, que passava uma tranqüilidade que se espera num lugar como aquele. Foi com ele também que descobri, pela primeira vez, como o Brasil é visto como um país imperialista pelos vizinhos sul-americanos. Entre os locais, eles só conversam em quechua, então não tem nunca como saber o que estão falando.

Chegamos no acampamento por volta das 14hs. Havia banheiros no local, mas com água gelada. O almoço já estava pronto quando aparecemos por lá.

A vista do acampamento era muito bonita, cheia de riachos escorrendo do alto das montanhas ao redor. Na foto, uma vista para a parte de cima:


A neblina ia e vinha, tornando o lugar ainda mais bonito. Havia bastante vegetação para baixo, mas muito pouca para cima, marcando o contraste. Mais para o fim da tarde, fizemos um lanche e, lá pelas 21hs, a janta. Era dia 31 de dezembro, e foi a primeira virada de ano que não vi passar, porque já estava dormindo. Não preciso nem dizer que ninguém estava soltando fogos no meio daquele lugar.

Comentários

Ana Lana Guerini disse…
A Trilha Inca é uma experiência transformadora.
Meu marido e eu fizemos a trilha no fim de agosto de 2009 e pegamos sol em todos os dias.
Os 4 dias foram fantásticos, mas o 2º é de "matar" e eu estava quase como Warmiwañuska.

Parabéns pelo blog

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