Preparativos para a Trilha Inca

No post de hoje, vou tratar de alguns preparativos que acho que são importantes para fazer a Trilha Inca, nos moldes em que a percorremos.
  • BAGAGEM: para fazer a Trilha, quanto menos bagagem melhor. Não tem como levar apenas uma mochilinha pequena, porque afinal de contas são 4 dias longe da cidade. De outro lado, é loucura carregar todo aquele peso que você vem trazendo desde o Brasil em 4 dias de caminhada, com altitudes que variam de 2.400 a 4.000m acima do nível do mar. Assim, a melhor coisa a fazer é deixar parte de suas coisas em Cusco. A maioria dos hotéis e albergues fornece esse serviço de graça mesmo, desde que você tenha se hospedado lá antes da Trilha ou tenha reserva para depois dela. Aproveite para deixar na cidade coisas como presentes, roupas que você usa para sair à noite, potes grandes de shampoo, etc. Leve só o básico: roupas para 4 dias de caminhada, tênis resistente ou bota para trekking, capa de chuva para você, capa de chuva para a mochila, saco de dormir (informe-se se eles fornecem o isolante ou "aislante", como chamam por lá), cantil de água, itens de higiene pessoal em pequenas quantidades, máquina fotográfica, remédios, lanchinhos, etc. Como eu disse no post anterior, barraca e comida, eles fornecem.

  • PREPARO FÍSICO: na Trilha, você vai ver gente de todas as idades - de gurizões de 15 anos a velhos europeus de mais de 60 andando com cajados - bem como gente de todos os portes físicos - de magrelos a gordinhos. O importante é manter o seu ritmo, para não ter problemas. Evite chegar de avião direto a Cusco e fazer a trilha em seguida, porque seu corpo precisa estar adaptado à altitude há pelo menos 4 dias. Nós estávamos há mais de 6 dias em altitudes até mesmo maiores, como as da Bolívia, por isso não tivemos tanto problema. As caminhadas, na trilha de 4 dias, duram de 6 a 10 horas por dia; o resto é visitação de ruínas, refeições e descansos. Objetivamente, não é tanta distância: cerca de 57km; o problema é o sobe e desce e a altitude. Há muitas escadarias e não se pode esquecer que é você mais o peso da mochila que você leva. Eu estava numa época bem sedentária antes de viajar. A única coisa que fazia era ir e voltar a pé do meu estágio, que ficava a cerca de 1,5km de casa. Uns 20 dias antes da viagem, porém, comecei a fazer caminhadas matinais de até 9km, inclusive usando os calçados que levaria na Trilha, para acostumar os pés a eles. Antes de viajar, faça uma revisão no dentista, para ver se não tem algum problema latente que pode vir à tona com a altitude. Se você tem muito problema de joelho, talvez a Trilha não seja recomendável, porque as escadarias, especialmente nas descidas que às vezes duram mais de uma hora, exigem muito deles. Para quem tem problema de coração ou pressão alta, é bom consultar um médico antes - afinal, lá você não terá atendimento a não ser que um helicóptero se enfie no meio do mato; isso se alguém conseguir chamá-lo.

  • ALIMENTAÇÃO E HIDRATAÇÃO: a alimentação, como eu disse, está incluída nos pacotes vendidos para a Trilha, e geralmente é bem farta. Eles privilegiam sopas bem consistentes, carnes cozidas com vegetais e cafés da manhã com pães, torradas, sempre com café e chás à disposição. Os horários foram bem distribuídos na nossa, de forma que não chegávamos a sentir fome entre uma e outra. Entretanto, vale levar barrinhas de cereal ou frutas para comer no caminho, se der vontade. Evite comidas muito pesadas nos dias anteriores, para chegar bem. É importante manter-se hidratado, pois geralmente você sua bastante nas costas, onde fica a mochila. Na frente, com o friozinho da montanha, você acaba ficando mais seco. Para não carregar litros e litros de água nas suas costas, o jeito é recolher água de fontes naturais e riachos ao longo do caminho, sempre bem gelada, colocando uma pílula de cloro no cantil e deixando agir por meia hora antes de beber. Não tivemos nenhum problema com esse procedimento.

  • CLIMA: o clima de montanha traz alterações bruscas de temperaturas e condições climáticas em questão de minutos. Dizem que em janeiro é mais quente e chove mais e que em julho a chance de chuva é bem menor, mas pode até haver neve. No nosso primeiro dia, devemos ter tirado e colocado a capa de chuva pelo menos umas 4 vezes. No segundo dia, choveu fininho o tempo inteiro. No terceiro dia, que começou chuvoso, à tarde quase nos queimamos com o sol forte. As temperaturas variavam junto com o sol. Quando havia neblina, caíam para 5°C, mas a sensação térmica parecia mais alta - tanto pela umidade menor do que a brasileira como pelo fato de se estar com o corpo aquecido pela caminhada. No sol extremo, passava de 20°C. Eu geralmente andava de bermuda e de camiseta, mas com um casaquinho esportivo por cima. Capa de chuva, sempre num lugar de fácil alcance. No segundo dia, que é o mais frio, usei calça. À noite, tem que ter um blusão de lã mais um casaco para agüentar o frio e para dormir confortável.

  • HIGIENE: não havia lugar para tomar banho no primeiro acampamento, em Huayllabamba. No segundo acampamento (Pacaymayo), só havia banheiros com água gelada. No terceiro acampamento (Wiñaywaina) sim, haviam uns 2 ou 3 chuveiros para homens, com longas filas para o banho. No quarto dia, você já dorme em Aguascalientes, num hotel ou albergue. Nós passamos sem tomar banho até a terceira noite, onde havia chuveiro quente. Tinha lido que na montanha seu corpo se comporta diferente, que não sente tanta necessidade de banho, e não tinha acreditado, mas hoje concordo. Não foi tão traumático assim. Quanto às suas necessidades, ou é no mato mesmo ou numas patentes em algumas casinhas ao longo do caminho - senão, só nos banheiros de acampamentos. Leve papel!

  • OUTROS CUIDADOS: tente manter suas coisas secas o máximo possível. Não tem como não acabar passando um pouco d'água para dentro de seus calçados, da sua barraca ou de partes da mochila em dias de chuva mais intensa. Para cuidar da bagagem, o ideal é enrolar cada 2 ou 3 peças de roupa em saquinhos plásticos, de modo a separá-los dos demais, tanto para não misturar roupa suja com limpa como para não molhar tudo de uma vez se algo acontecer. O mesmo deve ser feito com documentos. Para cuidar dos pés, troque sempre as meias e, se necessário, use esparadrapos enrolados nos dedos e talco. Depois que os pés molham, começam a atritar mais com o calçado e acabam formando bolhas. Na barraca, cuide bem onde coloca suas coisas e jamais deixe de colocar o isolante debaixo do saco de dormir. Evite encostar suas coisas na lona externa da barraca, pois é o primeiro lugar que molha. Não deixe nada do lado de fora da barraca à noite, pois é bem provável que roubem enquanto você dorme. Leve baterias de máquina fotográfica suficientemente carregadas para os 4 dias, pois dificilmente você conseguirá tomadas disponíveis e tempo para carregá-las.

Comentários

Tati disse…
Valiosíssimas dicas!!

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