De Arica a San Pedro de Atacama

O ônibus que pegamos em Arica foi o melhor de toda a viagem. Como eu já tinha dito no post anterior, o nome da empresa era Pullman Bus. Revirando minhas coisas, encontrei o canhoto da passagem e vi que custou 8.000 pesos (hoje igual a 16 dólares), o que não é muito, considerando que são umas 9 horas de viagem até Calama. As poltornas eram bem largas, reclinavam bastante, havia serviço de bordo (sanduichinhos, chocolate), ar condicionado na temperatura ideal, filme em volumes razoáveis. A única coisa que estranhamos foi um sujeito que recolhe os passaportes de todo mundo, para fazer anotações lá na frente, e demora um bom tanto para devolver - não havia como não ficar meio preocupados em ser privados do único documento de viagem que tínhamos.

Deu para dormir muito bem, mas pelo menos 2 vezes durante a viagem, no meio da madrugada, fomos acordados e obrigados a descer do ônibus para passar por umas espécies de aduanas internas. O que entendi é que existem zonas de proteção sanitária das frutas e do gado cada vez mais rígidas à medida que se aproxima do centro do país e, pelo que soube, partes do norte também seriam zonas francas fiscais. Todas com raio-x e, eventualmente, revista das bagagens maiores.

LEMBRETE: se você carrega máquinas analógicas com filmes profissionais (ISO bem alto), é melhor não deixá-los passar pelo raio-x. Avise o fiscal e tire da mochila antes de colocar na esteira.

Esse trecho é todo desértico, por isso fazia bastante frio à noite, embora fosse janeiro. É bom sempre ter um casaco à mão, porque os motoristas fazem cara feia se você pedir para abrir o bagageiro no meio da viagem.

Pela manhã, logo que saiu o sol, percebemos uma agitação entre alguns turistas, que começaram a olhar para fora das janelas. Estávamos passando por Chuquicamata, cidade onde está a maior mina a céu aberto do mundo.

Também conhecida simplesmente como "Chuqui", o lugar ficou famoso por ter entrado no roteiro de Che Guevara, em seu mochilão de motocicleta pela América do Sul. Ali, o futuro revolucionário ficou impressionado com as condições de vida dos mineiros e, segundo contam, teria despertado sentimentos humanitários em relação ao povo.

Embora ainda seja economicamente muito importante (boa parte da produção de cobre do Chile - e do mundo - vem dali), Chuquicamata se tornou um povoado fantasma, pois mais ninguém mora ali (o último morador teria saído em dezembro de 2007). Por questões de saúde, os mineiros foram progressivamente sendo removidos para Calama e outras cidades próximas. Declarou-se o lugar "zona saturada de partículas respiráveis e anidro sulfúrico", permitindo-se apenas atividades industriais.

Nós não descemos lá, mas há passeios pela cidade e pela mina disponíveis para turistas.

Cerca de 16km adiante, já estávamos em Calama, destino final daquela viagem de ônibus. Eram cerca de 6hs da manhã quando chegamos. O ônibus não pára numa estação rodoviária, mas na sede da própria empresa. Conversando, descobirmos que Calama não teria propriamente uma estação e que, para seguir viagem, deveríamos procurar as outras empresas de ônibus que fazem os trechos seguintes. Andamos umas 4 ou 6 quadras até achar a região onde havia algumas delas.

Acabamos acertando com uma empresa cujo ônibus para Salta (Argentina) sairia às 10hs da manhã. Segundo a responsável, não havia mais como emitir passagens ali, mas poderíamos embarcar e pagar o preço total na escala que o ônibus faria em San Pedro de Atacama, para pegar mais gente. O preço total (Calama a Salta) era bem salgado: US$ 35, mas não tínhamos muita opção.

Até que chegasse o horário do ônibus, demos umas voltas pelas quadras ao redor da empresa. Como era domingo de manhã, e cedo, tudo estava fechado. Vimos que uma padaria abriria dali a pouco e esperamos para entrar. Compramos alguns pães, atum, alguns doces e tomamos um café.

Acredito que não haja muito o que ver em Calama, pelo que já ouvi de amigos. Parece que até há alguns shoppings com coisas baratas, meio free shop, mas nada além de passeios à mina de Chuquicamata. A cidade é bem plana, no meião do deserto, com quadras bem quadradinhas e nenhum prédio que aparente ter valor histórico.

O ônibus saiu na hora marcada e pouco mais de uma hora depois já estávamos chegando em San Pedro de Atacama. Lá, conseguimos comprar oficialmente a passagem, pagando os 35 dólares.

Curiosamente, a imigração e a aduana chilenas ficam nessa cidade, que está a uns 160km da fronteira argentina. Talvez os chilenos tenham pensado mais no bem-estar de seus funcionários do que na "segurança nacional", já que a fronteira propriamente dita fica no meio do nada, a uns 4200m de altitude. Já os argentinos, estão lá, bem na fronteira.

Aduana Chilena em San Pedro, 160km antes da fronteira de verdade

Comentários

Alexandra disse…
Em Janeiro/2012 estarei fazendo o passeio do Salar de Uyuni (saindo de Uyuni e chegando em San Pedro de Atacama) Gostaria de saber qual é a empresa de ônibus que faz o pecurso San Pedro de Atacama para Salta
Desde já agradeço a atenção.
A. A. Cella disse…
Geminis e Pullman Bus. Mais informações: http://www.sanpedroatacama.com/ingles/llegar2.htm
Unknown disse…
Parceiro bom dia, qual o horário que você saiu de Arica em direção a Calama? Sabes dizer os horários disponiveis?
A. A. Cella disse…
21hs. Para horários atualizados é bom pesquisar online no terminal.

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