Bolívia...

Depois de 7 dias na Bolívia, bem como de alguns anos transcorridos entre aquela experiência e o dia de hoje, posso reafirmar que, na minha opinião, trata-se de um país muito, mas muito interessante mesmo, pelo pouco que vi.

A Bolívia está em 117º lugar no ranking mudial do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), só ganhando da Guatemala e do Haiti no continente americano. Isso significa muita pobreza.

Entretanto, não é aquela pobreza com a qual estamos acostumados: urbana, violenta, gerada por um modelo excludente que cria desigualdades. Lá, a pobreza parece mais ingênua. A falta de desenvolvimento do país como um todo deixa uma imagem generalizada de atraso, como se o país vivesse décadas atrás na história.

Com isso tudo, as coisas são muito baratas para quem vem de fora. Na época, até não aproveitamos tanto, pois com a desvalorização do real em vésperas de eleição, R$ 1,00 valia só 2 Bolivianos. Hoje a relação está em Bs 4,35 por Real, mais do que o dobro.

Como já disse em posts anteriores, não há sensação de insegurança. É raro ver alguém contando que foi assaltado no país; os maiores problemas aparecem, para o turista, na corrupção da polícia e nos distúrbios políticos que abalam o país com uma freqüência sem igual no continente americano. Na história boliviana, há praticamente uma tentativa ou golpe de estado para cada ano de República.

É instingante imaginar como teriam sido as coisas na região sem a presença do colonizador. O espanhol aparece, em pichações de muros, sempre como o vilão. Em algumas imagens (que até estampam camisetas), está a figura do colonizador levando uma cusparada de uma llama (cuidado, porque elas realmente fazem isso quando se chega muito perto!).

Curioso também ver como o povo se ressente da Guerra do Pacífico, na qual o país perdeu sua saída para o mar. A questão é tão presente na vida diária quanto a da soberania das Malvinas, para os argentinos; talvez até mais. Há pichações em muros, cartazes oficiais do Governo, todos lembrando o dever de recuperar o acesso ao mar, perdido para o Chile no final do séc XIX. Quando se pergunta por que tal produto importado é tão caro, a resposta vem logo: "porque não temos saída para o mar". Irônico ver que a Marinha Boliviana tem que se contentar em concentrar sua força num lago, o Titicaca.

O contato com os locais é fácil mesmo para quem não fala bem espanhol. Eles falam bem mais devagar do que os vizinhos argentinos, chilenos ou venezuelanos, sem uso de muita gíria (lembro-me só de duas, da região de Santa Cruz: polera, que quer dizer camiseta, e pelado, que quer dizer menino, rapaz, "cara"). Só não dá para entender quando falam em aimará ou quechua, línguas indígenas usadas entre eles.

O país proporciona experiências muito engraçadas.

Lembro de uma vez que a estrada para Coroico, no retorno a La Paz, estava fechada para colocação de calçamento, na parte em que se faz o trecho de van, e não de bicicleta. Havia 4 pedreiros olhando e chupando picolé, enquanto que 1 estava agachado martelando. Perguntados se podíamos passar, responderam que o trecho estava em obras. Em 5 minutos o motorista resolveu, "subornando-os" com um saco de maçãs.

Causa espanto o fato de que tudo tem que ser negociado. Das passagens de ônibus até o pacotinho de bolacha que se compra num mercadinho, nada tem preço definido. O vendedor joga lá em cima e você vai negociando, argumentando que está em grupo, que também é pobre, que viu mais barato ali perto, que não está tão interessado, etc. Uma passagem entre Sta Cruz e La Paz começou em 120 bolivianos, e caiu para 80 no fechamento do negócio, só para dar um exemplo.

Outra de se estourar de rir foi ver um semáforo que era operado manualmente, por um guarda sentado perto do poste.

Há outras, ainda, como quando uma chola veio entrando numa van de transporte público, correndo, e sem querer bateu a cabeça do filho que carregava nas costas na pare de cima da van, por não ter se abaixado o suficiente. A criança se estourava chorando e ela só ria com as amigas, mostrando aqueles dentões de ouro.

Uma insuperável é ver como eles adaptam carros asiáticos, com volante no lado direito, ao trânsito local: simplesmente arrancam a direção e montam pedais do lado esquerdo, deixando o carona com o painel à sua frente e um buracão que era da direção.

Com certeza ainda quero voltar ao país. Se pudesse ir agora, faria questão de conhecer o Salar de Uyuni (quem nem cogitamos de ir, porque disseram que estava num período de muita chuva e, portanto, intransitável), ficaria mais um dia em Copacabana, conheceria cidades como Sucre e Potosí e faria de novo o La Cumbre-Coroico Downhill Biking! Mas iria de avião, porque de trem...

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