De Cusco ao Chile

A viagem entre Cusco e Tacna não começou nada bem. O espaço entre os bancos era mínimo, o ar condicionado parecia que não daria conta do calor e, em alguns minutos, a coisa piorou de vez. Do nada, um sujeito levantou e começou todo um discurso de que tinha perdido o emprego, que tinha não sei quantos filhos e que precisava sobreviver. Em seguida, passou a falar das maravilhas que as suas barrinhas de cereal faziam à saúde. Passou de banco em banco, constrangendo todo mundo a comprar pelo menos uma, salientando os benefícios que uma barrinha feita com técnicas "incas" trariam. Passado o primeiro incômodo, não demorou muito e outro indivíduo se apresentou. Contou uma história parecida e disse que, para viver, tocada violão. Tirou uma viola da mochila e começou a tocar músicas típicas da região, gritando de um jeito bem desafinado. De tanto em tanto, passava com o chapéu, pedindo colaborações. Naquela hora, eu juro que me deu um desespero, pior do que qualquer outra viagem que tínhamos feito... Acho que o cara deve ter ficado mais de meia hora tocando e niguém fez nada. Bom, quando ele terminou, foi como se tirassem o bode da sala: tudo ficou muito bom e consegui dormir um pouco.

No trajeto, só paramos numa cidade chamada Juliaca para pegar mais passageiros e para o lanche (que, como de costume, era feito apenas com vendedores gritando nas janelas e entrando no ônibus para oferecer seus produtos). Pela manhã, bem cedo, por volta das 5hs, chegamos a Arequipa, onde teríamos que trocar de ônibus.

Na minha cabeça, conexão é conexão - a passagem comprada vale até o final do destino. Mas lá, não. Descemos com o motorista, que tirou dinheiro do bolso e comprou outra passagem para nós, em outro ônibus, no qual continuaríamos até Tacna, porque a empresa não seguiria até lá. Vai entender.

Se alguém ficou com curiosidade sobre qual era a empresa de ônibus, aí vai o nome: Cruz del Sur.

Ficamos só cerca de uma hora na estação rodoviária de Arequipa, até que partimos. Na saída, o pouco que vi da cidade foi impressionante: um vulcão nevado ao fundo, dominando a paisagem (depois descobri ser o vulcão Misti). Ta aí uma cidade que merecia uns 2 dias para conhecer; quem já foi disse que é bem legal.

A viagem entre Arequipa e Tacna foi mais tranqüila. Havia menos gente no ônibus, que era um pouco melhor que o anterior. Já descansado, fiquei olhando a paisagem, bem diferente daquela vista até então: era tudo já desértico, só rocha e terra. O trecho é quase todo de descida também, pois Tacna fica no nível do mar. No caminho, a única cidade relativamente importante é Moquegua, que é bem feinha e aparentemente não tem nada para se fazer.

Na rodoviária de Tacna, onde chegamos por volta do meio-dia, informamo-nos sobre como teríamos que proceder para passar a fronteira até Arica. Logo ficamos sabendo que o jeito mais prático (e não tão caro, se você divide entre 4 pessoas) era pegar um táxi até lá. Segundo as informações, não havia ônibus urbano que cruzasse a fronteira. Acabamos acertando com um taxista o preço de 25 soles para nós 3 (cerca de 25 reais, na época). A única foto que tenho do lugar é do estacionamento dos táxis na rodoviária em Tacna, todos uns carrões americanos importados usados. Ao fundo, montanhas de areia e rocha com desenhos que, na maioria, era protestos ou propagandas políticas.

Fizemos o câmbio com o que ainda tínhamos de soles, trocando por pesos chilenos, ali mesmo.

A distância até Arica é bem significativa: entre 50 e 60km. Quase no meio do caminho, a fronteira. Primeiro, fizemos a saída do Peru, sem qualquer problema. Entramos no táxi de novo e, mais um pouco, fizemos a entrada no Chile. Tudo bem profissional, com estrutura de aeroporto, com raio-x e tudo.
A diferença entre um país e outro logo se percebe - o Chile é um país muito mais desenvolvido, com coisas até melhores que no Brasil, mas isso é assunto para outra hora.

Quanto ao Peru, acho que é um país muito legal, embora pessoalmente tenha gostado mais da Bolívia. (As piadinhas são inevitáveis com quem diz que gostou do Peru, mas não tem nada a ver com isso...) Acho que o país não oferece tantos desafios como a Bolívia e que já perdeu a inocência em relação ao turismo. Passa a impressão de não ser tão seguro também. Conheci muito poucos lugares, praticamente só Cusco, por isso prefiro não dar muita opinião. Ainda quero voltar lá um dia, para conhecer Lima, sobrevoar Nazca, fazer outros passeios no Vale Sagrado, conhecer Puno. A maioria dos gringos que está fazendo um mochilão completo pela América do Sul vem descendo desde o Equador pelo litoral do país, só entrando mais para o interior quando vão a Machu Picchu e Arequipa, logo, deve ter algumas coisas legais para ver por lá.

Comentários

Ana disse…
Quanto tempo demorou a sua viagem de Cusco até Santiago? Eu escolhi chegar via Bolívia , passando por La Paz,Uyuni, São Pedro e de lá para Santiago...Mas já descobri que são dois dias de São Pedro até Santiago, acho que será bem cansativa...Dependendo de quanto tempo vc levou, talvez eu mude meu percurso... Obrigada ;)

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