Corumbá - cruzando a fronteira
Assim que chegamos em Corumbá (MS), ainda na estação rodoviária, procuramos nos informar sobre o trem que vai para Santa Cruz de la Sierra, o famoso "Trem da Morte". Esse foi aquele que poderia ter sido o nosso grande primeiro erro na viagem. Acabamos nas mãos de um sujeito de cara suspeita, que depois descobrirmos se tratar de um cambista.
O tal cambista disse que só haveria trem na segunda-feira, porque domingo nunca sai trem. Era sábado e piamente nos conformamos com a idéia de ter que passar 2 noites em Corumbá. Compramos as passagens pelo equivalente a US$ 21 em dinheiro da época, para a segunda classe.
Feito isso, fomos até um taxista perguntando se conhecia o tal Hotel Angola, única referência de hospedagem barata que tínhamos conhecimento. Ao chegar no hotel, já vimos pela portaria do que se tratava. Típico hotelzinho "de encontros", com cama redonda no quarto e tudo. Depois de muita risada, nos estabelecemos por ali mesmo. Tiramos no par ou ímpar para ver quem ficava na dita cama redonda e quem se acomodaria num colchãozinho no chão. Com diárias de R$ 20,00, não esperávamos coisa melhor. Dois saíram para comer fora, eu e outro ficamos no quarto. Depois de um banho, cama.
No dia seguinte, domingo de manhã, encontramos do lado do hotel outro que parecia ser mais ajeitadinho, por um preço ainda menor. Hotel Brasil era o nome. Retiramos nossas coisas e levamos para esse novo hotel, que pareceu mais seguro e que não tinha cama redonda.
Em seguida, saímos para conhecer a cidade. Corumbá é uma cidade antiga, conhecida como porto fluvial mais importante do Pantanal. Há muitos prédios antigos perto do porto junto ao Rio Paraguai, alguns bens conservados, outros nem tanto. A cidade é calma e parece que todo mundo se esconde por causa do calor logo depois do meio-dia.
Vista do Rio Paraguai a partir do porto
O que nos chamou a atenção foi o jeito de cidade festeira. Há postes de luz com caixas de som tocando música a qualquer hora do dia, em praças e ruas principais (não sei se é porque era quase véspera de Natal ou se é sempre assim). Carros de som passavam anunciando festas nas boates da cidade, com distribuição de camisinhas grátis. Nas farmácias, grandes cartazes anunciavam mega-promoções de camisinhas. Os dois que tinham saído para comer fora na noite anterior já tinham sentido isso, tanto que foram objeto de cantadas da mulherada, algumas impressionadas com olhos azuis - coisa rara por lá.
Já passado do meio-dia, decidimos fazer uma refeição bem completa, a última no Brasil. Achamos uma churrascaria em que todos os garçons ficavam felizes ao saber que éramos gaúchos, contando que também conheciam o RS e que gostavam muito daqui.
No início da tarde, decidimos ver como era a fronteira com a Bolívia. Pegamos um ônibus urbano e fomos até lá. Para ir e voltar no mesmo dia, não precisa carimbar nenhum documento - Puerto Quijarro é zona franca de fronteira. Aproveitamos e fomos até a estação de trem, onde descobrimos que sim, haveria trem no domingo, e que sim, poderíamos viajar, dali a algumas horas.
Voltamos correndo para Corumbá, num táxi boliviano. Dividimo-nos em 2 grupos: um iria até a rodoviária tentar pegar o dinheiro de volta das passagens compradas com o cambista para o dia seguinte e os outros pegariam as coisas no hotel.
Para surpresa geral do grupo, o cara devolveu o dinheiro numa boa, conseguimos pagar só meia diária no Hotel Brasil e em seguida estávamos novamente na fronteira, dessa vez em definitivo, para seguir viagem. Por isso que eu disse que esse "poderia" ter sido nosso grande primeiro erro!
Na fronteira, perguntei ao Policial Federal se tinha que pagar alguma coisa para entrar na Bolívia. Ele confirmou que não. Mas, entretanto, o que aconteceu foi aquilo que descrevi no tópico sobre os preparativos da documentação. O guardinha (que parecia um militar estereotipado de filme de comédia, gordinho, de bigode, com uma farda verde bem tosca, falando portunhol) pediu o dinheiro da cervejinha dele, e só então fomos liberados. Levamos numa boa; afinal foram só uns trocados e uma boa história para contar.
OBS: na fronteira, não há como passar com o mesmo táxi ou ônibus. Tem que descer, passar pela Polícia Federal brasileira a pé, cruzar uma pontezinha sobre um arroio e então passar na Migração Boliviana. São menos de 100m entre cada posto de controle. Do lado boliviano, há vários táxis esperando para levar à estação de trem ou aos free shops por alguns trocadinhos. Pode-se seguir a pé, mas dá uns bons 3km por uma avenida sem muitos atrativos (não sei se é seguro). Na primeira vez que fomos (quando descobrimos que haveria trem), fomos à pé; na segunda vez fomos de táxi.
Comentários
99844197 eu recomendo essa empressa para todos muchileiros ...abraços para todos,,,