O primeiro mochilão
O meu primeiro mochilão surgiu a partir de uma idéia plantada por um colega de faculdade, o Diego. Desde o final de 2000, ele já falava em algo muito incerto e distante ainda, sobre ir a Machu Picchu, só de mochila, com um ex-colega de colégio que morava em Florianópolis, o Giórgio.
Ao longo de vários meses, a coisa foi amadurecendo. Passamos para a fase de começar a pesquisar sobre o caminho que faríamos. Sequer cogitamos de comprar um guia para mochileiros, pois nem tínhamos noção de que isso já existia (certamente não em Santa Maria). A coisa era bem tosca mesmo: encomendamos um livro de um relato de viagem a Machu Picchu e passamos a procurar páginas na internet dedicadas à cidade inca. Encontramos 2 ou 3 que nos serviram de referência.
Quando eu trouxe da casa de minha família para o meu apartamento em Santa Maria um atlas mundial (Atlas 2000: A nova cartografia do mundo - avô do Google Earth, fonte de referência que uso até hoje, só disponível em sebos), comprado em 1996 no Círculo do Livro, que tinha quase todas as rodovias e ferrovias de todos os países, pudemos pela primeira vez ter uma noção mais clara do que teríamos que passar para chegar até lá.
Não demorou muito, chegamos à conclusão de que o melhor seria fazer uma viagem circular, voltando por lugares diferentes daqueles pelos quais fomos. Ficou decidido, então, que iríamos pela Bolívia, passando pelo famoso trem da morte e por La Paz. Cruzaríamos para o Peru pelo Lago Titicaca e voltaríamos pelo Chile, retornando ao Rio Grande do Sul depois de atravessar o norte argentino. Chegamos até mesmo a fazer a vacina contra a febre amarela, exigida para entrar na Bolívia, ainda em 2001.
Os planos, no entanto, foram sendo sucessivamente adiados por vários meses, em razão de greves na universidade, que desorganizavam qualquer planejamento de férias, e, principalmente, pelo início de um estágio, tanto pelo Diego como por mim. Nesse período, o dólar começou a subir. Passou de cerca de R$ 1,80 para uns R$ 2,40.
O estágio, que no início foi um problema, acabou se tornando a solução para a questão do dinheiro. Foi ele que nos permitiu juntar uns bons R$ 2.000,00 ao longo de 2002. Como estagiário não tem férias, decidimos que a única possibilidade de viajar seria aproveitar o período de recesso da Justiça, entre 19 de dezembro e 6 de janeiro. Se precisássemos de um pouco mais de tempo, com jeitinho conseguiríamos junto aos chefes.
Não tínhamos evoluído muito em conhecimento sobre o que faríamos em cada lugar pelo qual passariamos. Acabamos estabelecendo, pelo menos, as cidades por onde iríamos. Ficou assim:
Santa Maria (RS) - Campo Grande (MS) - Corumbá (MS) - Puerto Quijarro (BOL) - Santa Cruz de la Sierra (BOL) - La Paz (BOL) - Copacabana (BOL) - Puno (PER) - Cusco (PER) - Machu Picchu (PER) - Cusco (PER) - Arequipa (PER) - Tacna (PER) - Arica (CHL) - San Pedro de Atacama (CHL) - Salta (ARG) - Corrientes (ARG) - Uruguaiana (RS) - Santa Maria (RS)
Chegando às vésperas da viagem, a questão financeira começou a apertar. Era época das eleições e o Lula começava a aparecer como favortito. Em decorrência do medo que tinham dele, o dólar subiu e não parou mais. Daqueles R$ 2,40 que falei linhas atrás, a cotação do dólar comercial saltou para mais de R$ 3,70. Era tão caro que se encontrava dólar paralelo por cotação menor. Mesmo assim, decidimos prosseguir com os planos. Aos poucos, cada um foi comprando o que podia em dólar, sendo que convencionamos que uns US$ 600 seriam suficientes. Na média, acabei pagando R$ 3,65 por dólar (tenho raiva disso até agora!).
Alguns meses antes daquele dezembro de 2002, compramos as mochilas (a minha, de 72 litros, uso até hoje). Compramos em 2, para barganhar no preço. Lembro que não saiu mais do que uns R$ 115 numa loja de caça e pesca.
Nas últimas semanas, mais um amigo do Diego aderiu aos planos - o Leonardo. Seríamos 4 viajando, e logo tratamos de dividir responsabilidades quanto ao que levar.
Dias antes da viagem, dividimos as tarefas de que o comprar. Como pensávamos em acampar por conta própria na Trilha Inca, a maioria dos itens eram relacionados a camping (barracas, fogareiro, panelas), mas tinha também alguma coisa de primeiros socorros e outras utilidades.
Por fim, veio a compra das passagens de ônibus até Mato Grosso do Sul. O Giórgio sairia de Florianópolis e nos encontraria lá em Campo Grande. No mais, tudo seria comprado quando chegássemos nos lugares. Não tínhamos uma reserva de nada sequer - acomodação, passagens ou passeios -, com exceção de um lugar para ficar em Santa Cruz de la Sierra, na casa da família de um DeMolay (membro de uma organização juvenil da qual 3 de nós fazíamos parte).
Comentários
várias dicas importantes.. valeuuu!!