Dachau

Na hora marcada, o pessoal todo apareceu na Marienplatz. Tinham lido, em algum lugar, que dali saíam passeios para o Campo de Concentração de Dachau. Bem em frente à entrada da Prefeitura, encontramos um pessoal com cara de mochileiro reunido, e era justamente um grupo que se organizava em torno de um guia para ir até Dachau.

O guia era um irlandês que se dizia estudante em Munique. Explicou que o preço era de 10 euros para estudantes e 15 euros para não estudantes, o que incluiria a passagem de trem até o Campo e as explicações, ao longo de umas 4hs e pouco.

Depois que umas 25 pessoas se reuniram, saímos em direção ao metrô. Lá, na verdade, o guia compra Gruppenkarte suficientes para todo mundo (5 pessoas viajam com um ticket, lembra?!) e vai indicando onde temos que descer e trocar de trem. Quando chegamos em Dachau, que é o nome de uma cidadezinha a cerca de 30 km de Munique, pegamos um ônibus urbano com o mesmo ticket em direção ao campo.

O guia explicou que a cidade até hoje é estigmatizada pelo campo que existe nela, mas que não passa de um lugarzinho pequeno e tranqüilo como a maioria das cidades alemãs.

A entrada do campo de concentração é bem como se vê nos filmes: um portão ao final de uma rua, com torres de guarita ao redor.

No portão de ferro que dá acesso ao campo, a inscrição "Arbeit macht Frei", algo como "o trabalho torna livre". Essa era a ilusão que o campo de trabalhos forçados tentava passar aos presos: se eles trabalhassem cumpririam suas penas e poderiam sair dali.

O campo de concentração de Dachau (Dachau Konzentrazionslager) na verdade foi quase todo destruído logo depois da guerra. Pouca coisa do que se vê hoje é original - apenas o portão (não a grade de ferro) e alguns prédios como o da recepção são os mesmos da época. Muita coisa foi destruída por alemães que tiveram suas casas destruídas na guerra e acabaram indo morar por lá.

O que se visita, hoje em dia, é um Memorial às vítima do KZ Dachau, construído e mantido por associações judaicas, com entrada gratuita e uma pretensão de ser algo interativo com o visitante.

Foi bastante válido ter ido lá com o guia, porque caso não estivéssemo com ele, dificilmente entenderíamos como funcionavam as coisas por lá. Há explicações escritas, em inglês e alemão, mas acaba sendo cansativo ler tudo - e nem sempre dão a noção geral que se busca.

Segundo o guia, a idéia do memorial é mostrar a vida no campo a partir da visão de um prisioneiro.

Chega-se, pela entrada, e vê-se aquele portão do "trabalho liberta". Logo em seguida, passamos para a parte onde era feita a primeira triagem de presos.

Havia presos políticos, presos comuns (criminosos), judeus, homossexuais, testemunhas de Jeová e ciganos sendo levado para lá, desde o final dos anos 30.

Os tipos de presos eram separados e identificados com símbolos como os que aparecem na tabela acima, costurando-se pedaços de tecidos com essas formas e cores nas mangas do uniforme. Se a pessoa fosse judia e criminosa, ou cigano e homossexual, a tabela indica como identificar as duas circunstâncias ao mesmo tempo.

O que acontecia em seguida era um processo de erradicação da personalidade individual. O sujeito era privado de tudo que o diferenciasse dos demais, como cabelo, roupas, objetos pessoais, próteses, barba. Passava a usar um uniforme padrão, só sendo diferenciado pelo emblema que identificava que tipo de preso era e um número. Documentos, cartas e quaisquer outros itens eram imediatamente confiscados. Ironicamente, depois que já não tinham mais nada, os presos iam para uma sala de inspeção de saúde que dizia na parede "proibido fumar", como se ainda pudessem ter algum cigarro.

Ali, na inspeção de saúde, era feita a triagem com base na idade e na condição física do preso para trabalhar, bem como para que tipo de trabalho serviria.

Finalmente, eram encaminhados para os dormitórios coletivos onde passariam a viver à noite, por apenas algumas horas de descanso, para trabalhar mais de 15 horas por dia em atividades com construção de trilhos de trem, de armas de guerra, construção de mais alojamentos no campo de concentração, cozinha, limpeza, etc.


O guia vai explicando tudo a partir da história pessoal de um escritor alemão famoso que acabou como preso político. Vai mostrando arquivos com documentos de gente que passou por lá, locais que serviam para aplicação de castigos, a prisão onde os infratores das regras internas do campo eram recolhidos e por aí vai.

Há uma sala de cinema, também, onde é mostrado um vídeo de cerca de 20 minutos sobre a história de Dachau.

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