O lugar para onde não fomos

Quando ainda estávamos em Munique, minha mãe disse, ao telefone, que havia várias notícias nos jornais sobre alguns protestos e tumultos na Hungria. O primeiro-ministro tinha sido flagrado, logo depois das eleições, contando que tinha prometido um monte de mentiras só para se eleger. Mais ou menos como ocorreu aqui no Brasil com o caso do Ricupero nas antenas parabólicas, o sinal estava aberto e a "confissão" vazou para o povo, que se revoltou imediatamente.

Em razão disso, além de pedir para sempre "levar um casaquinho", a mãe me pediu que não passássemos por Budapeste.

Fiquei com aquilo meio encucado, mas não disse nada ao Rafael no primeiro dia, porque sabia que ele certamente ficaria meio nervoso com a história.

No dia seguinte, porém, contei. Tranqüilizei ele dizendo que ainda tínhamos alguns dias para nos informar e reavaliar a situação. Se fosse necessário, mudaríamos o roteiro e, inclusive, o vôo dele, que saía de Budapeste para Milão, com conexão para o Brasil.

Essa situação de indefinição perdurou alguns dias - os últimos na Alemanha e todo o período em Praga. Na última noite em Praga, depois de já termos nos interado de que a coisa estava feia mesmo na Hungria (inclusive com prisões e pancadarias nas ruas), uma conversa acabou definindo a nossa decisão. Uma menina da Rússia que nos ajudou a encontrar um endereço, no bonde, disse que conhecia gente que morava lá e que era melhor mesmo que não fôssemos, porque a situação tendia a piorar.

Na noite em que decidimos desistir de Budapeste, ficamos meio ansiosos, sem saber o que fazer no dia seguinte. Em Viena, começamos a ligar para o cara da agência que tinha vendido as passagens para ver a possibilidade de troca da do Rafael (eu não tinha nenhum trecho aéreo depois de Viena, só retornando ao Brasil por Milão uns 12 dias depois).

Depois de cogitarmos ir por terra até Milão, parando em algum lugar como Innsbruck ou Zürich, o Rafael decidiu antecipar a volta e sair de Viena mesmo. Andamos bastante no centro até encontrar o escritório da Alitália - que estava fechado e com uma placa dizendo que o atendimento ao público, desde 2005, era só por telefone.

A solução foi fazer a troca por telefone. Ele pagou uma multa de 100 dólares, mas conseguiu sem maiores dificuldades um vôo de Viena a Milão no dia seguinte.

Perdemos a reserva de hostel pré-paga em Budapeste, em nome da tranqüilidade. Brincamos, ainda, que a Hungria se tornou uma questão mal-resolvida na nossa vida - mas quem sabe ainda não a resolvemos uma hora dessas, numa nova viagem ao leste europeu?!

Comentários

jorge fortunato disse…
Espero que vocês consigam ir. Estive em Budapeste em 2007 e gostei muito.

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